quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

a minha infância é um presente cada vez mais distante

Do que me faz, tosse.

Diga-se de passagem: quanto custa pra ir e voltar três vezes sem sair do mesmo lugar que anteriormente havia se mutado com o intuito de nunca mais parecer o mesmo, até o giro de 2,3° à direta do sol, curvado com a linha do horizonte na vertical, à espera de uma gota de chuva da árvore, que em baixo, ainda chovia. Meio difícil fugir da sombra que nos segue desses sóis assassinos lentos e silenciosos da vida. Ainda mais tendo como verdade absoluta a intransponível barreira do botão excluir da vida. Nunca se sabe qual o próximo buraco, qual a próxima poça que vai melar a barra da sua calça ou sujar suas unhas dos pés encravadas ou bem feitinhas. Nunca se sabe se aquele seu sapato de couro de marca de vaca vai se recuperar daquele cheiro de urso molhado de suor de galinha. Nunca vai se saber também, quando se abre o baú da consciência a quantidade de mentiras que dali vão escapolir. É muito, mas muito difícil conseguir driblar a consciência que fica martelando, martelando, fazendo buracos com bicos de pássaros que comem árvores, bicos de pássaros que comem pragas. É como dar descarga naquele pequeno pedaço de si, tubos abaixo, sem dar ao menos um até logo. E quando sentimos saudades daquilo que nos faz mal tem gente que come chocolate, mas tanta alegria no organismo não me serve mais. Sinto falta da infância que o dizer sim não tinha consequências tão drásticas como a morte daquele peixe, véi, mirrado do copo de vidro. Falta daquelas manhãs que clareavam-se com beijos e carinho na cabeça, onde o minuto posterior poderia mais nem existir. Se naquela época já existisse, apertaria o stop e permaneceria ali, com aquele cheiro de cocô de cavalo, vento frio trazendo a fumaça do café, entrando pelos narizes famintos como se fosse veneno chamando com aquela mãozinha delicada, vezes verde, vezes cinza. Ah, se pudesse assim, abrir um buraco na terra, enterrar tudo, tudo e mais todos os tudos e por cima, uma flor com nome de país morta. Pegar aquele apagador e apagar o quadro negro da vida pregressa e totalmente prevista por ela e por lei. E aquele silêncio que precedia o choro, engolir-se-ia. E aquele cabelo tentendo a esvoaçar paralizar-se-ia. E com um catarro atarracado no peito um grito roco e desafinado ecoaria por toda volta da empresa : Ei , bico de pássaro vermelho, ides e passarás!

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

a santidade pinga.

morreu em magdala com problemas nas amigdalas.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Chá comigo.

meus sonhos passaram voando entre aquelas nuvens enquanto eu, aqui de baixo, observava com aquela minha velha amiga gastrite nervosa, tomando chá de hortelã, meu novo vício. Novo vício que eu me rendi fácil. Diferentemente das drogas que circulam por aí e pelos sangues, eu fiz questão de largar mão dessa resistência fundamentada num passado frustrado de um chá de casca de laranja. Hoje eu entendo muito mais a minha gastrite, quando eu decretei ódio mortal e abominação pública àquele simples e inocente líquido amargo. Percebi que decretei meu bem estar e minha amargura sempre pro ano que vem, assim como muitas coisas na minha vida cujos planos tem data pra começar e margem de erro pra adiamento de no máximo 1 ano.

O chá não pode ser aquela 8 maravilha gastronômica mas eu não acredito se alguém me disser que qualquer chá sem açúcar é gostoso. Pode ser gostosinho, bom de tomar, relaxante, qualquer outro adjetivo mas gostoso não é de jeito nenhum. Um dia minha avó (mentira, foi a minha mãe) me fez um chá de casca de romã que tinha gosto de meia. E pra saber como era o gosto, é só lembrar do cheiro de uma meia recém saída de um pé suado de dentro de um sapato de couro. Pois é. Consegui superar o trauma de criança do chá de casca de laranja da minha avó, que como dizia a minha avó ( e ela disse mesmo, não é chavão) fazia bem pra gripe. Acho que foi por isso que a gripe nunca me largou. Tava é bem.

Superei o trauma do chá de casca de romã ( que minha mãe jura faz bem pra garganta e agora eu acredito) e agora achei meu novo vício. Por que não se faz chá com sazon, mas com amor e pelo amor, tomar chá hoje em dia ficou muito mais gostoso.

sábado, 5 de dezembro de 2009

O Diário da prima

Nunca cruzei o oceano que se faria mar, mas me fiz mar. Mar melhor de boa, mar astuta, mar inteligente, mar fina, mar convencida, mar corajosa, mar feliz, ah sim senhor. Mar sorridente, mar contente de abrir os olhos e sentir uma obrigação de levantar e bater na minha própria bunda magra: Cuida, menina, tá atrasada. De pegar nos meus cabelos, que quase não os penteio - é muito mais fácil amarrar um rabo de cavalo do que ficar com cara de dragão. Ri amarelo, com os dentes sem escovar, com aquele bafo da manhã e um leve aroma de alho do bife da noite passada. Salpiquei aquela água gelada nas linhas expressionistas que a minha imaginação vê naquela cova, naquele buço tirado. Ê menina cuidada, né. Veja só. Tá todo fim de semana no salão alisando os fuás. A minha tia até me disse: Filha, te compro uma chapinha, um secador, o caralho à quatro, de quatro e ao avesso, o que você quiser mas, por favor, pare de dar dinheiro pr’aquela cabeleireira que te penteia e te tapeia. Olha aí, nem bonita ela consegue te deixar. Enquanto isso passa um cara de bicicleta e ao ouvir a conversa, falou a única verdade de todo esse texto: Issaí, rapae...só nascendo de novo. Ih! As pessoas tem inveja de mim.

Minha letra é horrível, nem consigo entender o que escrevo nesse pedaço de bloco de papel que eu ganhei num dos mil seminários que já fui. Seminário, conferência, palestra, workshops. É muito papel e eu tenho que aproveitá-los de alguma forma. Tive uma brilhante idéia: vou juntar todos os bloquinhos num só, grampear e fazer um caderno personalizado. Vou pegar aquela cambada de adesivos de caderno que guardo desde o ensino médio que nunca usei, mas que também nunca dei pra ninguém por achar que um dia eu iria precisar. Táí, chegou a hora das meninas superpoderosas, do ursinho plufpt, da Minnie, daquelas tatuagens tribais (suuuuuper fashions), daquele ’lembrar do aniversário de fulana’, daquela gatinha e daquele adesivo, aaah aquele adesivo do Matheo, da novela Terra Nostra, sabe. Aiaia. Eu tinha um pôster dele colado no meu quarto. Mesmo antes de saber o que eu poderia fazer com um homem, eu já fazia com ele.

Estava eu, a pri, a fá, a lá, a bi, a já, a ka, a la, a má, o gi, o su, a cli, o nê, o Rô, a lili, o fêr e o tion na praça depois do show do Jenoval. Esqueci de dizer que a mi e o bru tinham levado a prima que chamavam de ia, mas o verdadeiro nome era jasmim e eu não entendi o porquê. Essas coisas de apelido a gente nunca entende. Que Bençã, maninha. Sou muito grata pelas coisas que tenho, sabe. Não tenho muitas coisas, mas sou grata. Na verdade eu não tenho nada meu, mas sou grata do mesmo jeito. Se todas as minhas amigas agradecem, eu tenho que agradecer. Não gosto de ser do contra. Não gosto de confusão e quero que todo mundo goste de mim. Aliás, esse é meu objetivo: fazer amigos. Não interessa quem eles sejam, o que importa é como eles são comigo e isso me deixa muito feliz por que eu sou a única pessoa que consegue viver com esse paradoxo na vida. Deixa eu falar diário, que eu nem sei o que paradoxo significa, mas semana passada eu ouvi o professor de ciências falando e eu achei bonito. – Nossa, mas que paradoxo, heim princesa. Vem cá, moreninha linda!

Bonito, né?

Ontem, quando eu fui comprar pão na mercearia do Zico, encontrei ele maninha. Ele tava com aquela bermuda de jogar futebol, de seda vermelha, com aquela sandália kenner, linda, que eu dei pra ele no dia do seu aniversário e aquela blusa machão cavada, cor de burro quando foge. Ai, maninha. Que saudade que deu de pentear os seus cabelos do sovaco. De dormir em baixo da cama dele, esperando que a sua esposa fosse trabalhar e levasse as crianças pra escola. De sair, toda cheia de teia de aranha, com cara de azulejo florido, feliz, mas atrasada pro curso de datiolografia. De desenhar coraçõezinhos, de mandar mensagens pro celular dele. Melhor era receber as mensagens dele dizendo: - Minha mulher saiu. A cerca é sua. Na verdade a cerca era dele, mais pulante que pogobol elétrico, mas quem pulava a cerca era eu e caía direto pela janela do quarto, numa cama vermelha, meio desbotada, mas ainda tinha uma essência de cama vermelha. Vermelho é a minha cor preferida. Cor de sangue, cor de batom, cor de morango, cor de calcinha de renda, eita, dessa quem gosta é ele. Eu não gosto de calcinha de renda. Não gosto de coisa entrando na minha bunda. Cor de morte. Eu a vi várias vezes. Com o tempo passei até a gostar dos velórios, mas como tinha um quase todos os dias, aqueles dramas achocolatados se tornaram enjoativos pra mim. Pedi desculpas para o cara da capela são-alguma-coisa e disse que em breve eu voltaria. Mas só pra fingir tristeza quando aquela praga enfim morresse.

Eu sei que praga, carma, nunca morre e muito menos se acalma. Fica infernizando a vida de todo mundo pelo simples prazer de se sentir odiada. Ah, praga dos infernos. Queria eu ter coragem de enfiar uma faca naquele bucho de cerveja verde pra ver o líquido virar marrom, cor de merda. A cor que representava a sua vida. Era meio triste. Quando eu começava a sentir pena, não me permitia continuar e lia aquelas cartas. Só a primeira frase, que continha a data já era o suficiente. Ah, praga dos infernos, vai-te e Lilith logo! Eu não gostava de lhe desejar muitas coisas ruins não, por que eu sei que aquele Deus, o deus bom, que não era o mesmo Deus dela (por que não é possível) sabia o que fazia. Sabia o que fazia, fazia ou mandava fazer. Eu tinha é que livrar aquelas coisas ruins do meu coração e foi aí que surgiu a idéia do boneco de pano. Todo dia era um alfinetinho estratégico. A mulher lá do terreiro, disse pra eu ter cuidado, por que pessoa podia gostar e não faria efeito nenhum. Eu resolvi largar disso. Taquei fogo, mas só por que deve doer bastante.

Entrei pra igreja, comunidade Eros Ramazzoti, fundada por um cantor, ator sei lá, da Europa. Europa fica ali perto do Canadá, né? Agora eu não lembro. Enfim, lá é legal. As pessoas gostam de mim ou pelo menos fingem muito bem. Acho que Deus dá esse dom. Eu não consigo identificar mentiras nos olhos deles. Deus, será que eu perdi o meu dom? Será que essas pessoas tem um bloqueio na alma que não permitem ser enxergadas por dentro. Andei meio deprimida com isso, mas conversando com a pê, ela me disse que lá todas as nossas mentiras se transformam em verdades. C-O-M-O-A-S-S-I-M?

Eu não queria ver mentiras transformadas em verdades, por mais verdadeiras que elas pudessem parecer. Vi no fantástico, faz tempo já, que as pessoas que mentem tem um dom especial de fazer com que as outras pessoas acreditem e que acreditam na própria mentira, por isso que conseguem viver numa boa. Eu acredito nisso, mas não quero esse dom. Prefiro o meu de ver verdades nos olhos. E fazia tempo que não via, por isso achei estranho. Quando olhei aquele menino que tinha só olho, um olho grande, maceta mesmo, parecia que ia pular pra fora, eu vi verdade e sofrimentos muito familiares. Ele depositou uma moeda de 25 centavos na cestinha. Eu agradeci com meio sorriso, sem dentes. Coitado. Paz de cristo.

Esse meu problema de querer fazer amigos me deixava mal às vezes. Um dia, descendo as escadas lá do condomínio vi a esposa dele e fiquei com uma vontade louca de contar tudo pra ela e pedir que me perdoasse. Eu ia dizer toda a verdade, que a culpa era dele, que a cerca era baixa, que eu não tinha culpa que ele gostava de jiló e que quando eu estava cozinhando, ele sempre ia lá comer o meu jiló. Pensei em me propor a ensinar a esposa a cozinhar o meu jiló especial, quando me dei conta que o que o fazia pular a cerca não era o meu jiló. Ou era. Sei lá, eu nunca soube por que um dia desses, quando eu estava decidida a perguntar o que porque de ele ter estado comigo todos esses anos sendo casado, namorado, comprometido, sei lá que diabo era aquela relação, vi no jornal que ele tinha sido preso. Demorei pra ler a manchete toda. Fiquei tentando imaginar o porquê, antes de ler o que estava escrito. Enfim, todos já esperavam. Ele tinha sido preso por tráfico de drogas, de mulheres (pedofilia, inclusive), de remédios controlados, de móveis de madeira e de carne de boi de áreas de desmatamento na Amazônia, assalto, estupro e crime ambiental por ter matado 10 peixes exóticos (leia-se peixes estranhos) do aquário que ele mantinha com o dinheiro do seu serviço de empréstimo de idéias. Ele tinha um currículo grande, até. Era amigo dos traficantes e planejava estratégias de fuga e de novas rotas. Bolívia, maninha. Na Bolívia. Era amigo dos patrícios e das patrícias all over the world. Das patrícias, principalmente. As muchachas achavam que iam subir na vida, mas acabavam mais caídas que pelanca de peixe-boi. Peixe - boi ainda existe?

É hora de dormir. Liguei o rádio e tava passando a minha música. Não lembro o nome, mas acho que é do Calcinha Preta. Adoro aquela banda, mas prefiro a Joelma e o chimbinha. Que casal mais simpático e bem sucedido, né? Um dia desses os vi na Tv fazendo uma propaganda de sandálias. Esse povo da TV sabe vender as coisas. Só não comprei por que estava sem dinheiro mesmo. Adorei aquele comercial. “ Pi-pi, olha a mensagê”. Oba, cerca é minha!

domingo, 22 de novembro de 2009

Ficou por ali, meio domingando, meio choramingando, segundando umas primeiras intenções apodrecidas com o passar dos anos. E olha que foram muitos.

sábado, 21 de novembro de 2009

espelho espelho meu e pés de galinhas.

olhando no espelho, reparando bem no rosto, viu nascer uma ruga no canto esquerdo dos olhos, nas alturas das têmporas. Um pedaço de pele morta do meio da testa, feito de preocupação. Foi então que um resmungo interno saiu como um solfejo : pelo menos nem aos pés se chega aos dela de galinha.

sábado, 14 de novembro de 2009

Dá um 'chupe'?

Estava aquele sol tinindo. De suar sovacos, buços à fazer, derreter seios e regos. - Tá de lascar. Enquanto uns enxugavam suas testas, reclamavam com o sangue de jesus que tem poder, outros chupavam sacos freneticamente. Olhei pr'um lado, uma menina chupando. Olhei pr'outro, uma velha, um velho, um vendedor de pentes, uma criança catarrenta, uma pseudo-patricinha, um marginal, um vendendor de bananas fritas, uma piriguete tatuada e um cachorro. Todos chupavam. Chupavam por que era de uva, de morango, de leite, de maracujá, de cupuaçú, de cajá, de açaí, de abacate, de milho (eca!), de goiaba, que parecia ter um gostoso gosto, e tinha um que parecia de chocolate, mas me garantiram que era doce de leite. Me senti meio deslocada. Confesso que até pensei em entrar na onda da chupação, mas resisti bravamente.

Tudo isso por que não gosto de imaginar a procedência das coisas que compramos por aí. Imaginei a pessoa que preparou coçando o saco, amarrando o cabelo sujo de suor e com as unhas cheias de sujeira. Imaginei também umas gotas de suor caindo na mistura que vai pro saco e que vai pro freezer. 'Minina, o frio mata tudo'. Mentira. Existem bactérias que conseguem sobreviver mais de - 200 °c. 'Não interessa, o que importa é que alivia o calor.' Além de ser obceno uma pessoa chupando um saco gelado, é meio desconcertante pra quem não compartilha da mesma sensação de prazer, derretendo como o saco e ouvindo a parada de sucesso dos transportes coletivos. O problema todo está na democratização da tecnologia. Celulares com mp3 não deveriam ser tão acessíveis.


quinta-feira, 12 de novembro de 2009

é como uma nuvem. mas é muito melhor.

(hi)per-tense

Nada nos pertenceu, pertence ou pertencerá. Não existe ainda o documento que garante a propriedade particular humana. Ou seja, aquilo não era seu, mas estava ali em cima do balcão do quarto e a melhor desculpa, e mais rápida diga-se de passagem, que veio à cabeça foi: não sei de onde veio, mas pode ficar. Ela disse assim, com um pouco de sangue nas bochechas, rezando pra que ele aceitasse sem questionar a procedência. E assim foi. Talvez ele tivesse a certeza e nem precisasse de confirmação de que o fato de tão explícito, tácito é.

Bateu a porta, rezando que todas as pessoas que fossem cruzar a sua frente fossem feias e fedessem, para garantir total segurança, sem correr riscos. Deu uma topada na porta que embora fosse meio torta, fez foi indireitar o andar torto. O céu estava meio chateado, assim como ele, mas ainda não chorava. Não tinha mais graça aquelas placas de trânsito desde o dia que fora interceptado pela que dizia : PARE. O fez, de fato, mas com medo de acabar numa rua sem saída mas depois de perceber que a saída estava exatamente ali, naquele PARE, não teve mais medo algum. Esperou o sinal verde e simplesmente continuou andando. Achou um par de brincos e uma piranha de brilhantes diamantes, que acabou dando de presente para uma mendiga, gostosinha até, que estava sentada no banco brincando com umas sementes de paricá, recém nascidas.

Afinal, o que não é gostosinho aos olhos de quem vê em tudo e em todos aqueles que se andam e voam uma certa esperança de se dar bem na cama. Ou no sofá, ou na sala, ou no carro ou na rua, vai saber. Aquelas ruas eram sem saída mesmo. E mais calado de tampa de caixão eram os companheiros de cela. Engoliam todas as provas, mesmo que fossem concretas.Seus estômagos eram meras gastrites para o que tinham que aceitar, na verdade, eram iguais. Nao tem como se diferenciar dos seus , que na verdade não são, não foram e nunca serão pelos motivos outrora citados. Caso insatisfeito com a explicação, favor retornar mais tarde. Na verdade, verdade mesmo o botão excluir funciona.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

tinha uma cara de escorbuto

domingo, 8 de novembro de 2009

8 dias

Engraçado passear sobre a vida alheia. sempre são mais bonitos, mais felizes. a grama do quintal é mais verde. a samambaia da sala também. seus empregos são melhores, suas noites são mais bem dormidas, seus banheiros não tem vazamentos, seus sorrisos sempre cogates. seus cafés da manhã sempre vastos, seus carros sempre limpos com cheiro de perfume importado. seus celulares da moda inquebráveis cobertos de garantias de um ano. Seus cachorros não fedem, tomam banho todos os fins de semana e também não comem comida. só ração. seus quartos tem ar-condicionado e eles não passam calor. seus pais são um casal feliz, sem problemas de alcolismo, drogas, cigarros e nem de dinheiro. em suas casas reina a paz e o silêncio ensurdecedor de badulaques de madeira se chocando com o vento.

seus controles remotos são universais. Tv, Sky e Dvd. Engraçado a quantidade canais e as vezes não se consegue parar nem um minuto pra conversar sobre como foi o dia. sobre os planos, sobre as contas, sobre as conquistas das batalhas diárias, sobre as decepções com os amigos e desamigos. soma-se 60 horas semanais de amargura e apenas uns segundo de olhares cândidos à orquídea que nasceu no jardim esta manhã. some-se sorrisos esperanços com a vontade durmir e nunca mais acordar, até o dia que tudo estiver diferente. soma aí a idade, a idade dos filhos divida por três e terá vizinhos festejando na sala ao lado enquanto você come brigadeiro duro, da noite passada, lendo a coluna social e concordando que os cosméticos da Adcos podem até ser bons, mas nada é páreo para o apelo ambiental da Natura.

Concordando que chapéus de cowboys não combinam com qualquer pessoa, a não ser que seja uma vaca ou um touro. Chifres não aparecem nas linhas do jornal, mas a moça é expulsa da faculdade por usar roupa curta e os homens, filhos da puta, falsos moralistas e hipócritas se sentem em fim justiçados, quando na verdade estavam esperando na fila do banheiro para fazer uma singela homenagem à moça.

Quanta gente nojenta, quanta gente podre e eu me pergunto se faço parte disso tudo por opção ou por falta de. Penso que apenas mudar de país não vai ser suficiente para a minha evolução por que ainda existe a internet que consegue ligar mundos distantes. Penso que talvez se me mudasse pra lua, ia sentir falta dessa muvuca que é a terra e dessa putaria que chamam de socialização do conhecimento e da falta de conhecimento do que as vezes é o que importa mais: os sentimentos. Vou saber daqui a oito dias se meu leve descontrole vai cruzar o atlântico.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

difícil é ser sereno

É meio, um pouco, quase improvável, levemente impossível, meramente intacto, muito difícil, enxutamente deplorável, levemente úmido, escrupulosamente inviável, pateticamente branco, escalonavelmente sujo, paupericamente sorriso, desgraçadamente lacrimoso, amargamente jujuba, arcoiresmente preto, economicamente tortuoso, ambientalmente canibal, despretenciosamente fétido, desafinadamente mudo, mentirosamente amor, viscosamente sofá, despatenteadamente urso, filosoficamente solidão, interneticamente burro, claramente verão, publicavelmente braços, vergonhosamente podridão, compactadamente dedos dos pés, cheirosamente pescoço, tortuosamente caminho, frescamente visagem, coloridamente neve, inimitavelmente suco de soja, difícil é ser sereno em baixo da chuva.

domingo, 1 de novembro de 2009

Ai, aquele cheiro de sanipax...

Legislaine, por ironia do destino, estudava direito. Estava escrito no crachá, mas a foto era de um urso panda. Sugestível. Chegou assim do meu lado com aquele cheiro de desinfetante de banheiro. Meio ardido, meio cheiroso, meio irritante. Me afastou com um movimento brusco de ancas pedindo espaço. Afastei, claro. Posso dar descarga em você? Pensei. Perante aquela voluptuosidade toda, kilos de pelancas brancas, quase transparentes do sol que quase nunca chegou por lá, meia nádega monstruosa quase a engolir minhas canelas finas de passarinho: alguém tinha que ceder. Eu cedi. Mas foi por medo de ser esmagada, não nego. A feiura não me intimida. Já vi cada coisa que, pfftt, fichinha. O problema é que ela ao sentar, me fez ficar quase que na posição fetal, encolhida, com os braços e pernas cruzados, calculando cada movimento futuro, com medo de meus pêlos do braço encostassem na manga da blusa de algodão sintético, com desenhos geométricos. Se bem que círculos não me parecem ser geométricos. Essa palavra sempre me remete à ângulos, vértices e retas. Enfim, tinha medo de respirar, pois ao fazer, meus pulmões iam se expandir e tomar mais espaço na parte frontal do meu corpo, logo ali onde eu agarrava minha bolsa, forçando-a contra os peitos que estavam quase derretendo. Depois que comecei a ficar dormente e com falta de ar, resolvi levantar e mudar de lugar, já que a Sra. Panceps não sacou que estava cometendo quase um homicídio culposo, assim, sem perceber. Confesso que fui corajosa, mas depois fiquei com vergonha, ao relaxar, respirar e olhar pra ela com caradepeidaramaqui: "Da próxima vez, traga um banquinho do seu tamanho"

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

sorrisos salgados

domingo, 25 de outubro de 2009

Crianças tem mexido comigo bastante.
Deixem o michal jackson em paz!

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

ciúme é que nem álcool. pode até ser colorido, mas vicia.

e quando me dizem:' cuidado, você não sabe quem é essa pessoa'
eu penso: 'prefiro não saber. talvez assim eu seja mais feliz.'

terça-feira, 20 de outubro de 2009

sinto uma certa atração por lápis

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

quanta sensação filha da puta
quanta sensação, filha da puta
quanta sensação.

fly

E de repente veio uma mosca. Com seus olhos imensamente menores que os meus, porém, imensamente mais eficientes que o meu. Alguns milhões de quadradinhos hexagonais me olhando como se fosse espelho. Não adiantava, já estava quebrado. Me vi em milhões de partes, cara poro da minha cara, um flash, uma piscadela mosqueana. Pude ver o quão simples se é aos mil olhos de uma mosca. É engraçado também observá-la fazendo carinho com suas próprias mãos em si mesmo. Juro que ouvi o ranger de suas células epiteliais e nervosas, como as coxas barulhentas de um garfanhoto frenético a cortejar sua dama verde. Senti um certa familiaridade naquele momento.

Nada passa batido. Ela, literamente, viu meus pensamentos, de tão rápida que é. Confesso que me senti meio diminuída à capacidade de acompanhar coisas que nem ainda aconteceram. Mas eu me sinto assim muitas vezes, não é novidade. A novidade é que ela, a mosca, me mostrou vários defeitos, outrora não vistos, ou se vistos por outros - o que de nada me vale- não me ajudaram a evoluir de forma nenhuma. A mosca, díptera, com suas duas asinhas fininhas e ao mesmo tempo poderosas, sua língua em forma de canudinho, chupou que era de uva e emitiu um som estranho. Quase um ' ahhh'. Estava calor e aposto que suas papilas gustativas buscavam um pouco de açúcar, pois as flores tinham acabado de sair por aquela porta chamada primavera, sem deixar rastros como aqueles que se vão pra sempre. Eu achei ótimo. Estava adorando aquela visão tridimensional. Engraçado que as minhas orelhas não pareciam tão grandes. em cada quadradinho estava um pedaço. Gostei da sua perspectiva, dona mosca. Ela continuou voando, voando e fazendo barulhos, que depois de ter ouvido aquele 'ahh' não me pareciam ser diferentes. Dava cabeçadas na janela e voava para mim. repetiu umas 3 vezes até que eu pudesse entender a mensagem. Ela queria ir embora e com seu 'ahh' característico me pedia ajuda. Levantei e fui até a janela, que emitia muita luz branca, quase que me cega, e gritei aos dois ventos que vinham passando por ali, por acaso: "Vai, mosca. Apesar de nem todo mundo merecer, vá, voe e seja feliz!"

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Universal do reino dos fariseus.

Capelas cadelas
Hipócritas
Amar-elas

Te levanta do chão, ô pagão
A tua saída é no andar de baixo
Não adianta teu arrependimento aqui
Do teu olho esquerdo faço sopa
Junto com o pão amassado


Capelas cadelas
Pelo menos no escuro tu não vês
Pinga um pouquinho de colírio no olho direito
Faz uma cara de coitadinho
Alguém vai te atender

Não sou eu quem amaldiçoa
Mas doa a quem doer
Teu inferno vai ser eterno
Sem recuar, sem cair sem tremer.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

comi
go

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

a-cú-mu-lo

crianças crescem sem cicatrizes/ gosto de te ver vestida de cores/ na gaveta das confissões taquei fogo, mas só por que deve doer bastante/ o adjetivo orgânico deixa qualquer substantivo mais verdadeiro/ anos novos virão/ veja lá: não confunda ipê com paricá/ vejo cegos todos os dias mas eles não me vêem/ aprendi com quantas teclas se fala de dor/ não nego que chorei ao ver aquelas árvores/ tenho funcionado à vapor. dos maus/ é horrível esperar e-mails com notícias boas/ se eu pudesse escolher, escolheria almodòvar/ quando eu voltar ainda espero me pertencer/ coisas achadas no chão as vezes me dão medo/ roubei uma flor/quando olho no espelho me vejo mais que um ser animado/ tenho medo do escuro/ cabeça não pensa o corpo padece/ i see dead people walking around and singing out loud/ definitivamente não gosto de pessoas com os olhos juntos/ preciso livrar meu quarto do passado/ plantei uma árvore no ano passado e ela não cresceu quase nada/ era lua minguante/acho engraçado sua nuca/ se tivesse mais alguns trocados, eu laRgaria tudo/ não gosto de gente corrompida/ não gosto de gente que vasa/adoraria usar vestidos todos os dias e distribuir cotocos também/ já gostei mais de fantasias/ da cronologia dos sonhos: minha mãe foi miss, minha irmã é, eu sempre quis ser, e a minha cadela que posa para as câmeras.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

cargas d'agua


Construo em meio a sobriedade e o túmulo que me é passado, entre o sono diurno e o pesadelo constante, de todas as noites, todas , todas, nenhuminha sequer deixa de ser, o sonho replay ad eternum, dos miolos e pedaços perdidos em meio a embarcação. Lembro daquela tempestade. Água, água para todos os lados. Eu, de cabeça pra baixo tentando fazer parar. A gravidade é meio difícil de lidar. Tudo cai de cima pra baixo, até naquele dia que eu estava de cabeça pra baixo. Lembro-me da cor sem nome, cores de animais e da cor que eu fiquei. Eu senti o branco, por todas as partes do meu corpo. Às vezes o branco é uma cor dolorosa. O branco dói aos olhos, meus fotofóbicos. O branco deixa vazio. É, vazio. Tentei colorir com um assovio ou uma jujuba de morango artificial. Não deu. Tentei levar as mãos pro alto e fazer parar de cair mas denovo, a gravidade, me deixou no chão. Lá me parecia legal, até abracei sem querer, de costas pra tudo, como em muitas vezes estive, meus olhos- aqueles que ficam atrás da cabeça- permaneceram fechados. Peguei uma motosserra motorola (ou era nokia? nem lembro) e abri os bichos. Já era. Ondas, curvas! Eita, boto rosa! Mas como se faz pra nadar debaixo d'agua com os olhos abertos. Me responderam uma coisa que até hoje não me esqueço: Você nunca deve fechar seus olhos, em nenhuma ocasião. Eu sei, tá certo. Mas aí, me dá um copo com água limpa, por favor. Me lembrei que a única coisa limpa que existia ali naquele lugar, se é que podia se chamar de lugar, era um troço chamado noite. Daí eu vi aquele ser, aquele corpo podre, vestido de cinismo dizendo que aquela água era limpa. Mal sabia ele que eu podia enxergar por dentro dos seus olhos, pois eram neles que guardava todas as suas mentiras. E olha, vou te contar, não eram poucas. Aceitei a água, como se fosse um aperto de mão, meio distante, meio longe do corpo. Afinal, nunca se sabe o que um copo d'agua é capaz de fazer. Na verdade eu nunca soube por que quando ele virou as costas, pra outras andanças, eu joguei aquele copo no rio que, hoje de tantas águas do mesmo tipo nele jogadas, vive poluído e cheio de lixo. Vixe, presta não!

segunda-feira, 7 de setembro de 2009


pelo tédio tedioso, vamos tomar um sorvete de baunilha, que combina com teu gosto e pegar a sessão das 5.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Rascunhos molhados hum

Bob Esponja e Patrick e o design arrojado do hotel manauara

O Rio Purus, de suas águas caudalosas, toldadas, imenso por extensão, pertencente, juntamente, aos companheiros de bacia no amazonas, margens ora praias desertas ora nem tanto, imensas idem mas nem tanto, ora insustentáveis florestas de embaúbas, vezes precedidas de lagos, meandros abandonados, braços aleijados do rio, vezes com cacoais centenários e esquecidos como a maioria dos centenários, lembrados apenas centenas de anos depois, onde seus inimigos naturais se chamam motosserra e homem - não necessariamente nessa mesma ordem - insistem em viver de seus trancos e barrancos de areia abrigando e gerando mais vida que o próprio mundo. Este é casa, comida e roupa lavada do relato que segue de mais uma viagem minha, tendo como único e exclusivo objetivo o registro memográfico e fotográfico do dia-a-dia e das experiências vividas e vistas, visto que, embaçado e míope, minha memória é fraca e falha nos altos e baixos dos 22 que aqui vos falam. Um semanário vezes molhado, vezes sujo de dias fluviais e de pensamentos passageiros. Só, só, somente só.

Do mundo que cabe em uma só boca



Acho que sou a única pessoa que consegue dormir em qualquer circunstância. 4 horas com buracos maiores que eu, não foram nada para meu sono. A cidade continua a mesma, mas desta vez mudamos de hotel. Fiquei muito feliz em saber que não irei dormir com ácaros paleocênicos. Houve uma pane na cidade. Não tem água e nem energia na maioria dos estabelecimentos. Ainda bem que o hotel escolhido possui ar condicionado novo, lençóis limpos, banheiro mais ou menos. Energia é de vez em quando. Com certeza muito melhor do que eu esperava para essa estadia. Tem um telefone público que só funciona se tiver a sorte de um satélite estar passeando aqui por perto. Apesar de apenas 125 km, mais ou menos, o eco da minha voz parecia estar vindo do Japão. Nessas horas que eu ouço o quanto minha voz é desafinada. Achei graça ao desligar.

- Oi, cheguei bem. Aqui não tem água e nem luz, não pega telefone celular e não chove. Beijos e te amos.

Depois de resolvermos as coisas pra viagem - gasolina, comida, água – tomei um todinho e comi um passatempo assistindo o único canal que passa na TV. Se tem coisa que eu mais odeio do que novela em que os atores falam com o sotaque caipira forçadíssimo, é novela em que os atores falam com o sotaque caipira. Coloquei no mudo e fiquei vendo as imagens só. Que coisa boa é o silêncio de um ar-condicionado.

Eu estive com medo, mas passou. A força do pensamento é uma coisa muito louca. Hoje foi o meu primeiro dia com 22 anos. E daí? E daí nada. Só pra registrar mesmo. Encontrei um cachorro na rua magricela, com as costelas ímpares. Ele tinha cara de me dá um carinho e eu fiquei com vontade de chorar. O meu quarto tem paredes vermelhas, uma lâmpada amarela e um quadro em que o Bob Esponja e o Patrick correm felizes e saltitantes. O design interior do hotel uma coisa de louco. É claro que é uma piada. Dormi que nem criança.



Ontem a noite, depois de partimos as 16h de Boca do Acre, atracamos em uma das muitas praias que existem ao longo do rio. 3h de viagem e lá estava a lua, tomando seu lugar, no lugar do sol, enorme e clara que não precisei de lanterna, nem choro e nem vela. A noite estava fresca e o melhor de tudo: sem carapanã. Pena ou não, isso é só o começo. Histórias macabras de peixes assassinos e cobras, mas o piranambu – Urubú d’água – foi o protagonista da noite.

“- Teve uma vez que eu estava descendo o rio e mandaram me chamar da beira do barranco. Um homem estava desaparecido há três dias e precisavam de ajuda. Caçei ele pelo rio, rebolei, procurei até que achei. Puxei um troço da água. Era ele e estava inteiro. Só os ossos, sem carne nem pele e 4 ou 5 piranambus agarrados nos restos de fígado que haviam sobrado. Eita bicho imundo!Come de tudo. Não é à toa o apelido”. Dizia Seu Roberto, o comandante do barco.



Toque de recolher. Entrei no meu amontoado de redes para dormir o sono dos justos. Uma coisa legal é que o barco tem tipo um trapiche na traseira que dá pra tomar banho tranqüilo. Foi ótimo poder tomar banho de verdade. Antes de dormir, estava eu tomando banho de lua e de água, quando vejo derrepente uma voadeira e uma lanterna focada em mim: “vrruuuummmm Ihhhhhhhhhhhhhhhh!!!! vruuuuuuuuuuuummm” Eu não tinha pra onde correr. Poderia ter mergulhado no rio e ser devoradas por jacarés, cobras ou sair correndo pela praia e ser atingida por um esporão de arraia. Não fiz nada. Empinei meu nariz (mais do que ele já é empinado) e continuei o meu ritual.

Às vezes, muitas vezes, tenho nojo de homens.

(...)

queria úum

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

porra qui, porra culá


Carros vêm montados
em cegonhas e macacos
entopindo o lugar
onde insetos e pássaros
tem de pagar pedágio
para poder respirar

o ar que nem mais puro é
se olhar de perto
(um pouco mais perto)
o preto parece verde
e o amarelo, cajá

corre, avia
fia, a via!
lá vem a chuva molhar o chão
sujo de poeira de pés andarilhos
viramundos, maltrapilhos, bemtrapilhos também
engravatados, demodês e piratês
quero ser jovem, anarriê
por aqui, por aculá

vá ver se passei por ali
passeando num cipó
imagine só o congenstionamento que seria
se aqui fosse que nem nos vêem pras bandas de lá?
ia ter guarda de trânsito doido que só
apitando pra cima e pra baixo
só vendo macacos, besouros brigando pelo que restaria: o céu
ia ser um nó pra nós poder voar.

sábado, 29 de agosto de 2009

sábado, 22 de agosto de 2009

no rolyalties found

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

apóstrofo ou acento agudo?

O fato de ser pequena não impedia seu rosto de ter pés de galinha. Oras, eu também um dia já fui pequena. Rugas de preocupação da pouca idade. Oras, também, rugas se compartilham, veja só. Perguntas e dúvidas cruéis como: com que roupa eu vou, qual é o pente que te penteia, chapinha ou secador, calcinha ou shortinho, banana ou maçã, acento agudo ou apóstrofo. Considerando os meus últimos 12 meses, pouca idade não faz parte mais do meu conceito de pouco, pois dois patos na lagoa fazem verão, sim senhor. Esses e aqueles olhos pares e vezes díspares, vezes aguados, vezes cerrados, disparam longe. É muito passado pra pouco presente, minha gente. Vou logo dizendo que vou, com medo guardado no peito que nem falo alto pra não lembrar, mas volto. Não sei se meio viva, se magra, se meio morta, se louca, mas volto. Com menos sangue e menos cabelos. Mais doenças e menos dedos. Vendo traços seus e seus traços por aí, volto. Com uma semente nativa, algumas vermes que me comem por dentro e por fora, de frente e de costas e algumas estórias pra contar. Papéis rabiscados à luz de velas, lamparinas, lanternas e mosquitos. Diálogos engolidos com farinha, peixe espinhoso e outros animais selvagens, que prefiro não citar suas ordens do reino animal pra não causar arrepios pelos pelos que não tenho mais. Vou e vou logo dizendo que levo comigo tudo aquilo que me faz fechar os olhos e sentir o que tão bom é sentir quando se está naqueles momentos caracterizados por pernas bambas, olhos brilhantes e vontade de falar que nem criança. anseio por não-vírgulas.Vixe, deu vontade de chorar agora. Vou guardar pra depois. Te levo dentro de mim, meu amor.


domingo, 26 de julho de 2009

não sei o que há
sinto metros cúbicos de dores.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

título à definir.

Se estava tocando música clássica, provavelmente era beethoven. Mas por causa daquela nota tão previsível depois do lá sustenido menor, não era. Assim como os acordes, ele era imprevisível. Ou o fato de tanto ser previsível na sua impresivibilidade, que eu sabia que não era ele. úúúúúúúhhhhffffffffffff (onomatopéia de vento frio). Estavam de mãos dadas. Delicadas e macias, diferente dos seus pés. Mentira, não tinham pés. Metáforas. A cada esfregada - da crista do cavalo - elas vinha correndo pegando impulso e se jogavam pra frente em pliês de tutus, filós, pas de bourrée, manèges e petit a petit se espatifavam no ar. Iam e vinham numa dança frenética, intensa e por incrível que pareça, sincronizada. Mas agora espera, preciso contar a história desde o começo.

Seriam milhares, muitas, multidões, se fossem pessoas e não matéria. E como em todos os lugares onde muitas pessoas existem e coexistem, existem também conflitos, deformações, confusões e desentendimentos. Fatos também da matéria. Aos montes, algumas gostavam de molhar, abafar, cozinhar, irrigar, irritar, outras de inundar e outras apenas de umidificar. de frescar mesmo.

- Vim da frança. Eu do Camboja. Eu da Malásia. Rússia. Noruega. Cazaquistão. Oceania. Marrocos. Espanha. Canadá. México. Ilhas Malvinas. Austrália. Índia. Alemanha. Bruxelas. Argentina. Uganda. Estados Unidos. (Uhhhm, ácida tssssssssss ) e eu do Acre.
- AAAAAcre? -todas em um coro só. (queria muito poder reproduzir aqui esse som. quem sabe um dia eu compre um gravador mental ou sintetize os sons que saem da minha cabeça ao presenciar essa cena sonora tão singular. Plural. desculpe moças.)- Que país é esse?
- Fica no Brasil.
- Ahhhhh, Brasil. Então você é das boas. Vem da amazônia, ares e seres puros por lá.

Não entendiam muito de geografia mas eram bem voláteis e conversavam, discutiam, se conheciam apenas por conhecer. Como se não houvesse aquele tal de amanhã. Talvez nunca mais se encontrariam denovo, só se fosse no próximo ciclo biogeoquímico. Não tinham tempo à perder visitando e elaborando propágulos internos que explodiam alfinetes. As vezes, pareciam ser uma só olhando de longe e de perto também. As vezes se irritavam com isso. Não gostavam de ser consideradas seguidoras, vão com as outras, discípulas. Não, não. Cada uma pensava, fazia, falava de um jeito. Um jeito só. que por sinal, era igualmente sem personalidade. As chinesas que eram piores, coitadas. Não tinha como lutar contra sua natureza estrutural. - Lá vem elas.

- No próximo ciclo, quero morar nas rochas. Arrancar pedaços e virar mineral. Perceberam como o sobrenome mineral tem um status nos dias de hoje? Se eu der sorte, vou pra dentro de uma garrafa linda, com um rótulo lindo, pra dentro de uma boca linda...imagina eu me mandando pra dentro do Jude Law? - Ah, ai ai Harebaba, falou a indiana.

Tinha uma que sempre se destacava, e nem sempre era por bem, no meio das outras. Afinal, sempre tem um que quer ser o importante no mundo vivo e não poderia ser diferente na matéria. Sempre tem aquela que tem características megalomaníacas e psicopatas. Não deixava de ser. Era muito comuns suicídios naquelas bandas. Eram corajosas por que tinham certeza que nem a lei e nem o deus que as regiam, ia puni-las privando de um retorno triunfal num próximo ciclo. Se pudessem assim se assumir, mandariam encomendar purpurinas e pelúcias pomposas. Se jogavam mesmo, sem dor, dó e nem piedade. As vezes com alguns fluidos incolores, como eram. Quando ficavam tristes assim, simplesmente se desestruturavam. Perdiam partículas elétricas agregadoras de íons de sulfato e nitrogênio para virar simplesmente uma fórmula química monossilábicacápsuladupla. Só. Via-se de longe a tristeza. Tem muitas vezes por aqui, mas é por que são muitas vezes mesmo, antonimamente e diferente de sempre, não há outro sinônimo cabível no contexto.

-Incolor? E você que é insípida!

Houve um silêncio geneneralizado e azul. Esclareço: não há pior xingamento no mundo, em todos os mundos, de todos os adjetivos desagradáveis possíveis, impossíveis e imagináveis do que o trio ternura do desgosto, literalmente: Insípida, Incolor e Inodora. Era o fim. De repente se via suicídios coletivos, vácuos a baixo. ( eu disse que era muito comum). As que conseguiam seguir em frente, esperavam apenas mais um vendaval para se espatifar num vão sem fim que é o infinito e afogar suas mágoas. afogar. águas. Tinha ala das mal bebidas, desquitadas, deshidrogenizadas, das sujas, das coloridas e das mal cheirosas. Era um vasto catálogo, quase um pasto. Algumas cheiravam pó e seus narizes tinham cicatrizes horriveis, cujos lenços de papel eram acusados de terem influenciado gripes. (era mentira. nem tinham narizes.) Incompatibilidade de neurônios. Dos últimos que sobraram. Sinapticamente falando, coisa de química mesmo. Vai saber.

(...)



terça-feira, 21 de julho de 2009

Dê - Cérebro Eletrônico



dê amor,dê paixão,dê segurança,dê prazer,dê carinho...
lindaça.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

poderia ser um texto, mas não é


carta de recomendações:


adjetivos patenteados não podem ser reproduzidos sem prévia autorização, muito menos póstuma. as fragrâncias da memória andam por baixo de pés de laranjeiras, sob sete palmos anões. a ostentação não deve ser reproduzida em casa por crianças, idosos, zumbis, monstros e nem animais contaminados por outros animais contaminados, tipo aqueles que habitam as mentes. quando se fala em mundo, se fala em mundo muito inteiro, não só uma banda. quando se fala em sonho, não se trata daquele que vende na padaria, muitas vezes dentro vejo pesadelos. apesar de você achar que as tesouras, vassouras, plásticos descartáveis, câmeras fotográficas e lápis (no plural) de cera- o giz vocativo- copos de cerveja, sofás de couro cabeludo, doces coloridos (que mal há?), estrelas, luminárias, luas, geladeiras, lençóis manchados de sangues heterogênios e multi dna's, plaquetas e placas bacterianas, escova de dente vermelha de pasta, porta e alma escacarada e estuprada por aqueles que não devem ser nomeados- jamais- papéis, pênis, tênis e brincos solitários adotados alheiamente, bicicleta, monociclo, monoteta, brusquetas, bolsinhas, filhas e gatos, nomes compostos, aviões, lágrimas conjuntas, telefone celular, copos diamantes, painél de madeira serrada, pulsos e água com sal têm alguma coisa em comum, eu continuo achando que aquele quadro pendurado, poderia ter uma inclinação de 15° pra direita, pra que eu pudesse admirá-lo com o pescoço caído e meus olhos enxergassem aquilo que foi escondido pelo pintor ou pelo fanfarrão do falsificador de obras, de palavras e de vidas.

domingo, 19 de julho de 2009

G#m

as ruas continuam vazias
mas cheias de listras, faixas brancas
e eu continuo à pé sonhando com sinfonias
de artistas mortos e ricos
mantenho meus pensamentos mais mortos do que vivos
vivo nas linhas
não consigo sair delas
música, música, música
vem pra mim em notas que eu não conheço
com sentimentos que me fazem cantar sóis menores
música, música, música
me faz pensar no mundo de linhas retas, ondas sonoras
magras, gordas, reverbéricas
pra eu embalar meu sono de dia
que é a qualquer hora
música, música, musica
me diz pra que tu existes na minha vida
se não é pra me fazer cantar
se tenho a voz tão desafinada e aguda
que nem meu cérebro aguenta pensar
me diz por que mãos que se mexem e se machucam
não conseguem seguir um ritmo só
que possa ser acompanhado por um maestro
com duas mãos delicadas, macias e com cheiro de cremes para as mãos
me diz por que eu que tenho dois ouvidos
um com mais cera, outro não
que não conseguem traduzir essas ondas que pairam por aí
enrroscam em fios de telefone, em receptores de satélites
e não conseguem chegar ao seu destino final
minh'alma anda meio sem sal.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

ó
dores
h(ó)
rrores

sábado, 11 de julho de 2009

eu, deserto P. D.

Tem crescido desertos em mim
Infinitos longos com gosto de jasmim
(só pra rimar)
Cheiros e cores de balas de festim
Tem crescido desertos, areias
O vento espalha pelas veias
A vontade de não ser só mais um grão

Na multidão dos milhares
Sente-se pequeno tal qual como era
Os peso da idade na barriga
Os traços da morte que passou na face
O deserda do seu destino que era um dia ser feliz
Mas pra que serve viver o destino se
O passado que te mata?

Não se sabe se foi, mas a dor do deserto
Vem rasgando o passado presente
Ao invés de flores delicadas
Cactus suculentos, agressivos na beleza
Frágeis demais pelos tempos
Que batem em suas pseudo folhas
(gordas)

Temporal em copo de areia
Vendaval de maldade veio, passou e continua vagando
Bate aquela vontade de morte
Tempestade em lágrima órfã
Se vão como se nunca tivessem existido
(que frase mais passada!)
Grão de areia perdido
Sem certeza do que o fim pode trazer

Aos montes, uma cáfila de sonhos montados
Que engole cada pensamento
Como se fosse amargo remédio
Verde lodo azedume
E aquela careta que não pode faltar

Um buraco ficou e no lugar, vida
No fundo dos olhos, janelas serradas
Da mais pequena e insignificante, fica na sua
Desertos que crescem dentro de corpos
Ventos do nordeste do sul do Brasil
Onde ventos fazem curvas
Não movem montanhas
E sim dunas.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

vem pra mim
nesse copo graduado
cheio de medidas que
desmedida eu bebo
me afogo
goela a baixo
de ti

Giselle, não tem nada de divertido em arrancar um dente.

terça-feira, 7 de julho de 2009

'o blog é meu e eu escrevo o que quizer e como quizer.'
Claro. Justo, Roberto.

- Me desculpa por falar com a boca cheia.
- Não tem problema me desculpe também por ter te abraçado e te beijado o rosto logo depois de sair do banheiro. Eu não lavei as mãos e tenho doenças sexualmente transmissíveis. Ei, pera aí! Não se procupe, se você pegar alguma coisa eu pago sua consulta, conheço um médico maravilhoso!



- ...
- !?

segunda-feira, 6 de julho de 2009

de cima me vi quebra cabeça.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

de Vik Muniz







Fui na sua exposição no Masp e me apaixonei por ele e por seus trabalhos. Assisti o documentário Worst possible illusion: the curiosity cabinet of vik muniz e conclui o que eu achava há muito tempo: não precisa ser genial pra fazer arte de qualidade, basta ter alma.

Vik Muniz

terça-feira, 30 de junho de 2009

coisa boa

é ter um amor sem passado
com gosto de vencido*





*crédito da frase pro Marquinhos.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Descobri que sorvete de creme combina com teu gosto
Que as ruas que me levam pro teu caminho
Passam por um lago pintado
De listras brancas, vermelhas e pretas
De plantas coloridas na pele
De guerras, danças e gritos cantados

Descobri que aquela flecha de anjo
Na verdade era flecha de outro
Tinha um pó extasiante
Parecia estar escrito na bula
Se tivesse, andava de costas pra lua
É hora de sentir de verdade
Com moderação pode abusar

Entrou de vez como num batuque
Abalou as estruturas coronais
De penas e pássaros
Reverberou com um canto
Como naquele canto que te vi
Pela primeira vez chorar

De mãos dadas com teus pêlos
Cabelos, me dá teus anseios?
Me vi do lado avesso
Esperando você me espiar

Foi naquele dia, na luz da tua
Que eu vi minha mão nua
Calos, cores, calos com calos
Me calo, e espero você voltar.

dos meus verbos pontuais

agora sim eu posso me livrar do arco-íris,
do relógio, da blusa, daquela caixa cheia de coisas,
de ventos, de cheiros, de guardanapos rabiscados com azeite,
e bebidas cevadas fedidas e verdes,
de segredos inconfessáveis,
não por mim, por eles,
e do quebra-cabeça que fiquei de te deixar na porta de casa,
eu virgulo.

posso me livrar enfim daquele grampo de cabelo.
achado por acaso no chão do meu chão.
da arte de enganar. que dias e dias foram nossos chãos.
nossos. fingido normal.
sim coletivo. plural. ésse no final.
péga. é de presente.
ela no fim e eu no começo.
ou seria do contrário. o avesso?
eu pontuo.

me lembro bem daquela música que diz em sons menores.... que dor é maior...
não é tua voz que canta... não precisa...as notas que me notam... me tocam...
com mãos e membros limpos....fluídos correntes e límpidos...

lembro daquele acorde maior...acorda faz sol....
te levo pra praia e te faço sorrir sem dó...
te balanço no colo, te mostro em aquários...
peixes estranhos a sorrir e festejar arpejos trasparentes...

debaixo daquele guarda chuva colorido...
cor sim cornão...sorriso amarelo mostarda...
acende um incenso com cheiro de patuá, pra disfarçar...
debaixo da camisa uma flor com espinhos...
agudos e bonitos...me espera na porta do cemitério...
que te vejo chegar...

eu pratico o verbo reticentiar

domingo, 28 de junho de 2009

Morangos frenéticos e a passeata sonora dos cegos

É tudo cinza. Céu, chão, faces e subterrâneos. Árvores tentam resistir nascendo, florando e sombrando como se fosse a última vez e respirando como se fossem únicas responsáveis, em meio aquela bagunça organizada em linha reta. Elas me dão medo. Me olham com cara de abraço. Às vezes eu sinto por não ser tão amável, mas isso me faz ser quem eu sou. Bom ou não, graças ao bom senhor. Por aqui cachorros passeiam, mas só eles. Senhoras solitárias têm seus momentos caninos da calçada. É meio triste ver todos aqueles semblantes preocupados com a vida e, mais do que nunca, com a morte.

Logo de cara: Passa a bolsa, passa o tênis e o casaco. Foram-se algumas centenas de reais e um bilhão de certezas que as coisas ruins só acontecem com o vizinho. Deve ter sido outra macumba mal feita. Placas, placas, letreiros, faixas, homens e carros. É muita informação pra dois olhos só. Como não tenho câmera fotográfica, (roubaram junto com a minha dignidade noutros tempos. Consegui recuperar só a dignidade) meu obturador pessoal registra a cada piscada, imagens que, se eu pudesse, reproduziria com as mãos. Mas não posso. Na minha infância ao invés de estudar artes, estudei música. E isso não justifica minhas falhas de caráter. Nada justifica. Só o Word.

Penso tragédias. Vejo um ônibus atravessando a rua e imagino um trem vindo de encontro a ele, amassando narizes e esbugalhando olhos. Eu sei que trem não anda na mesma rua que o ônibus, mas tudo isso é fruto da minha imaginação, como disse. Imagino pessoas se partindo no meio na calçada, órgãos, víceras, sangue e membros alados, seios e silicones jogados no passeio enquanto pombos procuram o resto de milho de pipoca que sobrou do verão passado. Imagino-me caindo em um precipício e lá em baixo só existem vermes de óculos. Entro no avião e imagino uma explosão, pessoas voando e eu sendo amassada por umas toneladas de ar. Até nas coisas mais simples como ao entrar no meu quarto no escuro e jurar que quando eu acender a luz um extra terrestre vai pedir meu cérebro, ou um monstro vai chupar meu sangue, ou até mesmo um homem comum vai me dar um tapa na cara, me jogar no chão e desmaiar no banheiro de remorso. Minha mente é absurdamente, eu sei, mas isso me faz ser mais centrada e estar preparada sempre para o pior. E quando o melhor vem, é um maravilha de bom.

Vi uma banquinha de frutas.Todas elas me pareciam deliciosas e o preço era três vezes mais barato do que eu costumava pagar em outros lugares. O que eu fiz? Como compulsiva que sou, comprei três cartelas de morangos. Lindos, vermelhos de dar água na boca. Botei na mochila, com cuidado para não amassar e depois guardei na geladeira. Uns dias depois tinha até esquecido dele. O frio me fez ficar um pouco mais burra. Parecia que os neurônios tinham dado um paradinha básica para o café quente, pra aquecer. Resolvi pegar um metrô, coloquei as cartelas dentro da mochila denovo e segui. Segui, segui, andei, andei- Caralho como essa cidade é grande- metros, metros, estações, metrôs, morangos. Abro uma cartela e começo a comer. Era tão suculento que eu senti que estava mordendo uma nuvem, vermelha, claro. Vermelho. Frio. Gelado. Morango, morango, calçada, mendigos, morango, lojas, pastelaria do chinês, vermelho, papelão, pedaços de marmitas encostadas aos postes, folhas, vermelho, morango, morango vermelho, doce, padaria, sons, sons, vermelho, morango, sons, doce, flauta, acordeon, meleca, doce, vermelho, cubos sonoros, morango, faixas de pedestres, branco, vermelho, morango, cabeludos, metaleiros, morangueiros, morangos, guitarras, dó-ré-mí-fá-sol-lá-si, vermelho, pentatônica, turuturpá, morango, vem de ré pra mim sem dó, baterias, suco, batuques, xeco-xeco, vermelho, cachorro, côcô, vermelho, -vamos dar uma entradinha?- como assim, entradinha, ô rapaz!?- vermelho, morango, suco, fiquei corada, ladeira, carros carros, vendedor de macaxeira (o que ele estava fazendo ali?), vermelho, suco, vermelho, escaleta, azul, daquela cor, vermelho, morango, - meu deus, que cara bonito!-, paixões instantâneas e voláteis, ladeira, portas, sons, notas musicais, eu e meus morangos frenéticos.

Parei, olhei e continuei olhando. Um grupo de pessoas, umas 30, atravessam a rua, duas a duas. Detalhe: uma delas estava vendada. Primeiro achei que era uma terapia de grupo para desenvolver confiança na outra pessoa, mas logo vi que eles eram cegos e seus cachorros estavam sendo treinados junto com eles. Passavam vagarosamente por cima da faixa de pedestre, listras bancas no asfalto preto, pareciam as teclas de um piano, ou de uma escaleta, que quem soprava era o vento frio que vinha do leste. Cada passo, eu imaginava uma nota, aumentaram a velocidade e pronto, logo vi: era a nona sinfonia de Beethoven.

sábado, 27 de junho de 2009

Em meio ao cinza gélido
pra colorir uso um arco-íris no pescoço
.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

acontece


aconteceu o que eu temia: virei uma amante da natureza e o pior de ser uma amante é ter que aceitar dividir, aceitar compartilhar algo que nem é seu de verdade, com outras pessoas que não são nem pessoas de verdade.

aconteceu o que eu temia quando falava dos algodões doces e dos horizontes de outréns. aconteceu quando achava bobagem um sentir tão abstrato que é dizer gostar de algo ou alguém. é abstrato, não se quantifica, não se dimensiona. se sente, se sonha.

aconteceu o que eu temia que qualquer árvore me faz chorar e nem todas são seringueiras ou marupás. aconteceu que pássaros vêm até mim querendo conversar. é como se eu tivesse um imã que virou reverso. meu reverso é do bem e eu só tenho esse agora pra usar.

ontem entrou um pássaro gordinho de peito dilatado pela minha janela. voou, voou se bateu e ficou a me observar apontando lápis usados. parecia querer me dizer algo com seus olhos redondos, estes que pareciam querer explodir de tão brilhantes. teve uma hora que eu pensei que ele ia se transformar num anjo, ou num demônio, vai saber. já tive mais medo das coisas bonitas da vida. deve ser porque eu tive uma nuvem preta, um isofilme 100% sob meus olhos que me impediam de enxergar as luzes, as luzes do céu e as luzes do teu olhar.

aconteceu que ao andar em baixo de uma árvore gigantesca, ela cuspiu uma flor na minha cabeça. esse tipo de cuspida eu adoro. era cheirosa e delicada. olhei pra cima e sorri: 'obrigada'. seus galhos pareciam querer me abraçar, mas eu sou tão pequena, sou tão pequena a te olhar. desculpa, um dia te alcanço. por enquanto posso ficar aqui, embaixo da sua sombra? preciso repassar meus sonhos acordada, tô cansada de viver e não sonhar.


demorou, mas aconteceu que consigo enxegar os horizontes que vão além, pode acreditar. Além daquela próxima castanheira ali, além do que os livros podem me ensinar. Além do meu céu, que é mais pro norte. além daquele cheiro forte que me faz lembrar.

aconteceu que meu perfume preferido não tem mais gosto de laranja e nem de dor. aconteceu, que pra retribuir, cuspi pra cima e meu cuspe virou flor.

domingo, 21 de junho de 2009

me disfarço
me desfaço
me deslaço
te abraço
no chão

terça-feira, 16 de junho de 2009


pegue um machado
amole
pegue um pano
para limpar o suor, vai precisar.
pegue também um punhado de sementes
das que tem bastante proteína
não esqueça do seu pó
proteja-se do sol
siga o rumo dele
afaste aquele cipó
aviste, mire, apunhale
dilacere, arregace
rompa, machuque
veja sangrar
sangue sem cor
sinta o cheiro, é cheiro de dor
ali ficou um pedaço aberto
outro pedaço se foi em suas mãos
volte daqui a uns meses
uns anos
veja se há buracos
não. fechou.
agora veja quanto cresceu
olhe seu interior
veja nos anéis, o que sobrou?
cicatriz que formou
tinha cara de cumaru-ferro
usava óleo de peroba
mas tinha cheiro de cravo
de defunto que tentou ser
por muitas e muitas vezes
até apodrecer
e cara, como fedeu.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

foto por J. Arthur

das cores e dos prazeres

domingo, 14 de junho de 2009

please, don´t watch me dancing.

sábado, 13 de junho de 2009

sonhei de virar quadrado.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Dos tempos

Às vezes eu não me importo em acordar atrasada. Estar atrasada sempre foi um coisa normal. Mas quando eu era uma garota primária, tinha neura de relógio. A aula começava 7h e às 6h15, impreterivelmente, lá estava eu, sentada na arquibancada da quadra de educação física, vendo as pessoas chegarem com suas caras de sono, suas remelas viscosas e suas pastas de dente na gola da blusa. Umas pareciam que sequer tinham acordado, tinham chegado à escola pelo sonambulismo conduzido por seus pais. Quase ninguém ia de ônibus. Pequenos burgueses, não sabem o que é sofrer de verdade, alguns diziam. Tinham pais e mães, a maioria. Os que não tinham, não eram totais infelizes, não. Eram da galera do fundão, da galera da briga, da galera do futebol e a galera do livro também. Eu fazia parte de duas dessas galeras aí. Essa galera se divertia na tristeza e na desgraça que eram suas vidas. Admiro essa habilidade das crianças. Viviam na diretoria. -Preciso conversar com a sua mãe, menina. - Se você encontrar ela em casa primeiro que eu, me avisa. Também quero conversar com ela. Batiam nos menores para se sentirem superiores e poderosos mas quando chegavam em casa iam assitir animes de monstrinhos fofinhos e choravam de saudades do amigo imaginário chamado Marih, era tailandês. Escreviam cartas à mão deficiente de caligrafia. Kali=bonito; graphia= escrita. Nunca foram entregues por que os correios não aceitavam enviar ao destinatário com o mesmo endereço do remetente.

Sei que com o tempo isso foi passando. O tempo passou a ser uma mera palavra que não pesava em quilos, pesava em segundos e meus segundos são bem leves. Todos os meus seis relógios marcam uma hora diferente. Uns alguns minutos antes da meia noite, outros alguns minutos depois do nascer do sol. Meus horários favoritos. De dia viro flor e de noite viro bicho. Tem relógios que eu nem uso, me lembram tempos que eu não quero me lembrar. Tem uns que eu não consigo livrar do braço direito, que é o braço que eu mais gosto. Não sou canhota. Sou direita. Consegui abstrair seus tempos.

Mas a verdade mesmo é que hoje em dia não me preocupo com a pontualidade, apenas a dos meus ponteiros. Se é hora de acordar, em que relógio? Se é hora de cantar, com que galo? Foi-se o tempo que eu me preocupava com o passar dos passos apressados. Foi-se o tempo que 6h era o horário de acordar e 10h30, 10h32 eram os de durmir. Foi-se o tempo que eu contava as horas. Foi-se o tempo que minhas flores preferidas eram gérberas. Foi-se o tempo que minha pele era rosa.


quinta-feira, 11 de junho de 2009

vim aqui, escrever no blog.

feliz ao vivo
e à cores.

vem nadar aqui, vem.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Dos sonhos

Era daquelas pessoas paralisadas. Paralisadas no tempo, no espaço e no lugar. Tinha dois sonhos. Daqueles simples que, se a vida não tivesse virado 1° pra direita, não seria sonho, seria apenas uma rotina. Tivera uma febre de 3o dias. Sua mãe morreu cedo. Tinha mais ou menos uns 50 anos. Ou menos. O sofrimento envelhece e dá pés de galinha para qualquer vinteoitão que se acha invencível por tudo, inclusive pelo tempo. Ele nem se achava, queria mesmo é sonhar. Devido à febre ficou doente pro resto de sua vida. ainda tem um resto. Ao confessar sobre o que tinha acontecido, senti uma certa umidade nos olhos daquele senhor e eu confesso que dos meus, quase escaparam alguns úmidos. Não tinha os movimentos das mãos. Eram apenas pêndulos moles, sem controle que, à medida que ele tentava controlá-las , balançavam que nem uma maria mole com cheiro e cara de pele. Acho que tinha paralisia na língua também ou talvez fosse apenas a falta de dentes que dificultava uma dicção compreensível. Ele fazia tudo sozinho. Todos os dias de manhã pegava o saco de estopa com os punhos, na verdade usava o osso das mãos para sustentar o peso, arrastava com suas pernas pesadas (também tinha problemas nos pés, eram pela metade e sempre enrrolados em faixas). Pra enxugar o suor do esforço, punhos na testa. Incrivelmente conseguia tirar saquinho por saquinho, caixinha por caixinha e montar uma bandeja de balas, chicletes, jujubas e pirulitos sobre um banquinho de madeira.

- "Meus sonhos eram: aprender a ler e ser escritor." Tirou do saco um caderninho amassado de capa mole. Coqueiros e um mar azul.

- "Veja. eu que escrevi. Na verdade não escrevi, eu ditei e a minha vizinha escreveu pra mim. " Eram poesias. Eu já estava quase chorando.

O primeiro verso, o único que me lembro, dizia:

Não há tesouro no mundo capaz de ser maior que minha mãezinha
Não há tesouro maior, nem nos mares há.(...)

-"Um dia eu ainda vou publicar um livro. Vou largar essa banquinha de doces e vou ser famoso. Obrigada minha filha, por ajudar a montar a minha banquinha. Deus te dê todas as coias boas que ele não deu pra mim."


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Entrei no Ufac soluçando e pensando: hora de escrever um projeto.



segunda-feira, 8 de junho de 2009

a gente nunca sabe o que fazer. acaba fazendo sem saber mesmo.

na minha casa só chove do lado direito.

bloguimeio.


testando postagens por e-mail. mas que maravilha!



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Kaline Rossi

hoje sim, eu sou eu naquele espelho.

domingo, 7 de junho de 2009

me falta um template pra vida.

sábado, 6 de junho de 2009

quando estou no céu,
Deus me dá uma bomba
de nuvens de presente
e quando ela explode
tudo se inunda
de azul turqueza
que é a minha cor.
é uma das minhas cores.
por que às vezes eu não tenho cor
me foge. me erra.
ei, morra aqui!

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Dia do Amor.


O mundo está em crise. Isso é fato consumado, comentado e debatido até em mesa de bar. (como assim 'até em mesa de bar'? tem gente que quando bebe fica inteligente, importante e às vezes até invisível. É um bom momento para se debater). Tem gente que não sabe nem é o que está em crise mas, como é o assunto da moda, acaba debatendo normalmente. Crise econômica, crise imobiliária, crise de rinite, crise existencial, crise sentimental, até. O brasileiro se acha inteligente. Sabe falar muito sobre pouco que, juntando tudo, não é quase nada.

Falando sobre o fato consumado. As pessoas usam todos os tipos de estratégias mercadológicas, persuasivas e até sentimentais para aquecer a economia. Em tempos de aquecimento global e crise econômica eu não sei pra que lado ir quando se fala em consumismo. Chegando o tão falado 12 de junho, lojas vão enfeitando suas vitrines com corações, palavras bonitinhas, balões vermelhos, fotografias e preto e branco ( preto e branco é bem romântico, não acham?). Tudo para aquecer a economia local e atrair mais clientes. Esse é o intúito dessa data. Como todo mundo sabe, no mês de junho as vendas eram baixíssimas e decidiram criar um dia para que as pessoas tivessem um motivo para gastar seus dinheiros. Pumba! Nasce o dia dos namorados. Mas, e se o mercado dos namorados também estiver em crise?

Com o surgimento de relacionamento alternativos, por exemplo, onde se preza por um amor , paixão, tesão, livre, sem títulos de propriedade, direitos autorais ou de uso, por um amor que não se encaixe nos estados civis existentes na constituição brasileira, nos padrões mais aceitos socialmente, os 'namorados' estão virando raridade, coisa de velho, coisa de gente doida, coisa de gente insegura, coisa de gente...gente como você, como eu, como nós. Sabe-se que para toda prática extrema sempre surge uma alternativa. Temos como exemplo o vegetarianismo, o hiduísmo, o homossexualismo (na verdade eu sei que é homossexualidade, por que o sufixo ismo remete à doenças. e ser homossexual não significa ser doente. é só pra rimar), o feminismo, o namorismo, o ficandismos, o peguetismo e o simples Amor. O amor é uma alternativa, na minha opnião, a melhor de todas para tudo. Não precisa de status social e nem de certidão de posse ou propriedade. Não precisa pagar taxa de quebra de contrato ou de advogados. Quer dizer, de vez em quando precisa. Consideremos as situações normais. Desse amor livre que eu sou à favor. O que importa não é uma aliança de compromisso, é a aliança da alma. O que importa não é o sobrenome, o que importa é o que você realmente representa na vida da pessoa. É uma questão que se resolve à dois, à três ou à quatro para algumas pessoas, mas só se resolve com ele, com o sentimento, com o amor.

Para mulheres frágeis e pouco inteligentes emocionalmente, influenciáveis por essa pressão psicológica e idealista do mercado, dia 12 de junho só presta se você tiver um namorado ( não acredito que os homens sintam a mesma coisa. acho que só no aspecto de que todo mundo gosta de ganhar presentes, independente da data) é um dia muito triste, quando não se tem um namorado, é claro. Bridget Jones que o diga.

Por isso que depois da minha revolução verde, eu estou agora encabeçando (mesmo que seja só dentro da minha própria cabeça) a revolução do Amor. Devemos tirar essa idéia da cabeça que somos reféns dessas coisas que tentam colocar nas nossas cabeças, e muitas vezes conseguem. Não falo de chifres. Não se compra sentimento em nenhum lugar. O máximo que você pode fazer é comprar um sonho na padaria, só. Se você não se encaixa nesse contigente de pessoas 'namoradas' e sim, enamoradas, apaixonadas, não se sintam constrangidas nessa semana que antecede o dia daqueles que têm o título de namorados, em comprar uma lembrancinha, um chocolate, um carrinho de brinquedo, o que quer que seja para dar de presente, mas só se sentir vontade e não por obrigação. O amor não tem data, assim como o dia das mães, dia dos mortos e outros dias. Pra mim, dia 12 de junho e todos os outros dias no ano, é dia do praticar e exercer o AMOR!

quarta-feira, 3 de junho de 2009

- Há sempre algo de ridículo nas emoções da pessoa que se deixou de amar.

Oscar Wilde

terça-feira, 2 de junho de 2009

esse tempo frio me lembra os tempos que eu era outra pessoa. ainda bem que eu já tinha esquecido.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

estou com cheiro de armário.

oração verde.

às vezes eu tenho medo do meu lado verde. eu não queria ser tão ecologista.

"Ensinem às suas crianças o que ensinamos às nossas, que a terra é nossa mãe. Tudo que acontecer à terra, acontecerá aos filhos da terra. Se os homens cospem no solo, estão cuspindo em si mesmos. A terra não pertence ao homem, o homem pertence à terra. Todas as coisas estão ligadas como sangue une uma família. Há uma ligação em tudo. Os rios são nossos irmãos, saciam nossa sede. O homem não tece a teia da vida, ele é apenas um fio. Tudo que faz à teia ele faz à si mesmo."

Amém.

domingo, 31 de maio de 2009

cheirava alegria

sábado, 30 de maio de 2009

as vezes quando fico muito feliz fico entalada. fico querendo sorrir, mas o sorriso, ele fica dentro da barriga e quanto mais empolgada eu fico, parece que eu vou explodir pela garganta . tenho andado assim ultimamente. muitas coisas boas acontecendo, muitas coisas boas que vão acontecer e eu preciso sorrir mais alto. talvez esteja na hora de eu fazer a placa:' sorrindo muito'.

fazei o bem sem olhar a quem. então compra uma máscara aí, maninha, por que com essa tua cara aí fica difícil.

de pensar que todas as pessoas merecem uma segunda chance que me rendi. com a alegria nos olhos e nos dedos, abraço e choro coletivo. foi choro de alegria, emoção, dor, dúvida? foi só choro sincero. fazer parte da transformação da vida de alguém, ou apenas da vida, é gratificante mesmo com apenas um sorriso quase sem dente. eu já fui mais forte pra's coisas da vida. ainda bem que essa fase passou e agora posso sentir tudo que sempre quiz e nunca pude por medo dos medos, medo dos outros, medo de mim mesmo. a gente se conhece e sabe onde se encontra aquilo escondido, só a gente sabe aonde está. uma das coisas boas de ser livre é isso: poder viver sem culpa e sem ter medo de chorar.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Placas

Ando confeccionando placas. É, é uma maneira de dizer sem abrir a boca. De falar sem ser ouvida e sim, ser lida. Mas me ler, você pode aqui. me ver? Quero levar minhas palavras pra onde quer que eu vá. Pode ser em um livro, talvez denovo daqui a um tempo, talvez algo mais. Pode ser em um artigo científico, ou numa lápide. Sim, em breve verás. Pode ser em uma poesia escrita no verso de uma propaganda de geladeiras ou de cursos de como falar português. Pode ser escrita em forma cuja forma lembra letra de criança. Eu tenho esse lado infantil e faço questão de admirar quadros e flores coloridas. Por exemplo, ganhei uma semente nativa de presente e quiz chorar. Olhei pela janela e vi umas nuvens fingindo. Fingindo chover, fingindo molhar. Levantei os braços, sem me preocupar com o que tinha em baixo deles, com os olhos fechados tive que abrir uma brecha pra uma lágrima órfão sair. Ela saiu e bateu a porta. Meus braços formavam um 'a'.

Uns dias antes, ao sair de casa eu vi alguma coisa escrevendo com nuvens o céu. Ué, nuvem não escreve. Ando tão distraída que imaginei a palavra escrita: 'avião'. Às vezes eu também me imagino morrida. Que bizarro por que eu não era convidada pro enterro. Eu olhava tudo de cima e não entendia nada. Vi gente pingando colírio, fingindo chover. Vi gente rindo, gargalhando por fora e por dentro. Tinha alguns que choravam de verdade, mas alguns só faziam caretas. Caraca, como você é feia, ainda bem que eu nunca mais vou te ver, desabafei . As lentes dos óculos escuros não eram tão escuras assim. Alguns relinchavam: 'acho é pouco. ela mereceu, fazer o que né? é a vida'. Tinha uns que se amassavam no canto do muro aproveitando que as atenções estavam voltadas para a minha mãe. Ela chorava que eu fiquei com vontade de chorar também. Segurava a minha mão de dedos roídos. Ainda tinha um pouco de esmalte vermelho. Culpa da funerária que não me limpou direito. Dentre os 'porquês, aonde eu errei, a culpa é minha, a culpa é daquele desgraçado, Deus que quiz assim, não foi Deus quem quiz, tinha um futuro longo pela frente, pelo menos vou ficar com o guarda roupa dela, ela me devia dinheiro, ela me devia um homem, ela planejava viajar com o marido, ele não tinha fotografias, ela esteve grávida, pretendia comprar um cachorro novo, derrubar uns mil metros cúbicos pra fazer mesas e salas de estar, ela não era toda de verdade, deveria ter arrumado a bicicleta, estava ficando meio gorda, eu gostava da banda dela, mas acho que ela pagava de gatinha, eu achava ela bonita, mas era metida, era metida por que se achava superior a tudo e todas, e era, se não fosse não teria tanta gente aqui, fingindo, fingindo? fazendo contatos, tem uma festa alternativa daqui a pouco, ela gostava de limão e de bebidas coloridas, que se foda ela não está mais aqui mesmo, ele está solteiro, eu achava que ela era lésbica, fazia bruxaria, gostava de estacionamentos, tinha uma pilha de livros não lidos, comprados e dados, dizem que ela tinha cleptomania, que horas vai ser o enterro? o pai dela não bebeu hoje, será que ela ainda guarda aquela carta? ela não possuía títulos e era muito feliz', eu me despedia confecionando a minha última placa:"Aqui jaz"

terça-feira, 26 de maio de 2009

Não se preocupe com sua vida. Há sempre alguém pra cuidar dela.

domingo, 24 de maio de 2009

eu já fui muito mais poética.

às vezes eu queria ter um controle remoto igual do filme Click. Como eu já assisti o filme, ia saber usá-lo de maneira prudente.

Das palavras há muito não ouvidas

Peba.

Monólogos

.é por que as vezes a gente fica lembrando das coisas e, sabe, seria legal dar um ctrl z ou um delete.

.acho que Deus escreveu meu destino em braile por que juro, juro mesmo, que não sei.

. a samaúma deu flor.

. ás vezes eu queria poder ajudar mas seria como sentenciar-se ao mesmo mal.

.eu sempre gostei de telefones públicos.

.alguns insetos exalam um odor não muito agradável.

.não consigo me livrar do relógio verde.

.uso o relógio no braço direito mas não sou canhota. eu gosto do meu braço direito.

.a vida é longa e dura. complete a frase.

Acho que o que o Bush sente quando lembra da merda que fez com o Iraque, é o mesmo sentimento que o Marcelo Camelo tem ao lembrar de Ana Júlia.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

das bizarrices e futilidades kalinianas

Hoje eu vi três crianças de mais ou menos 5, 6 anos apedrejando um outdoor da Colcci, cuja garota propanda era a Gisele Bündchen. Fiquei chocada. Elas atiravam com tanta força, tanta raiva, tanta garra! Será que elas estavam apenas brincando, fazendo o que mais gostam de fazer e independente da pessoa, propaganda ou lugar atirariam pedras do mesmo jeito? Essas crianças de hoje em dia já têm opnião formada desde cedo, eu pensei. Culpa da televisão. Tinha uma menina no meio. Talvez ela atirasse pedras de inveja: "Poxa, eu nunca vou ser bonita e nem ter tanto dinheiro quanto ela". Mas acho que as crianças dessa idade ainda não desenvolveram esse tipo de inveja. Isso é coisa de adulto frustrado. Depois eu pensei denovo: porra, enquanto vocês atiram pedras, eu queria ser ela. Não ser ela, nem acho ela tão bonita assim, mas há de convir que o poder que ela tem é dos grandes e fortes. Talvez ter o dinheiro dela, o Brasil, a Colcci e o mundo aos meus pés. Talvez algum diretor de filme, escritor (que não seja de best sellers ou de auto-ajudas), cientista ou pesquisador pros fins de semana também.

Ainda bem que Gisele e eu não temos o mesmo gosto pras coisas. haha!

=)

quinta-feira, 21 de maio de 2009

bizarriceas kalinaceas

tive um sonho bizarraceo. sonhei que estava dentro de um ônibus. era gigante, parecia um trem, um metrô que eu não conseguia ver o motorista. o ônibus estava andando em alta velocidade e eu só sabia disso por que meus cabelos estavam esvoaçando-se e meu rosto estava meio desfigurado, como se eu estivesse fazendo careta o tempo todo. eu babava, tentava lamber a baba mas minha língua não conseguia sair da minha boca. eu estava tendo uma overdose de oxigênio. me sentia mole mas me sentia feliz. o veículo parou. olhei pela janela eu não via nada além de uma imensidão azul. era o céu ou era o mar? estávamos flutuando. estávamos eu não sei, não me lembro de ninguém do sonho, mas eu estava flutuando. não, na verdade éramos nós mesmo. eu e o ônibus. mais de um já é plural. eu vi umas nuvens mas elas cresciam grandes, gordas e verdes. pareciam brócolis de algodão doce. achei estranho. então, começa a fazer um barulho estanho, como se o chão estivesse se rachando no meio. aquele barulho estridente de metal. olhei pro meio e pra baixo e realmente: o chão estava se rachando. pela fresta eu podia ver muita luz amarela e verde. aos poucos vinham saindo uns galhos marrons, iam se espalhando, emergindo do chão que não era chão, era céu. não era mar senão eu teria morrido afogada. os galhos começaram a invadir o espaço, iam crescendo e folhas também. as folhas cresciam muito rápido, naquele efeito que é o contrário de slowmotion. era uma samaúma de folhas vermelhas belíssimas. os galhos como não conseguiam furar o teto do ônibus, iam fazendo voltas e mais voltas dentro do espaço até formar meio que um jardim emaranhado de verde, marrom e vermelho. agora que eu não conseguia ver o fim mesmo. mas na verdade no fim de tudo, eu estava ficando sufocada pela beleza e grandeza da árvore que sentei nas raízes, fui escorregando até cair no buraco que a árvore tinha feito no chão. eu abri os braços e voei.

acordei com as mãos arranhadas de balançar contra a parede que tem grafiato.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

se eu fosse você no meu lugar não seria eu.

constatação

o tempo passa mais devagar quando contamos os dias.

terça-feira, 19 de maio de 2009

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAaahhhhh

tenho um sorriso que não cabe na boca. e olha que minha boca é grande.

das impressões matutinas

às vezes me incomodam esses passos sobre a minha cabeça.

Podemos estar falando

Tenho professores graduados, mestrados e doutorados em Engenharia Florestal mas com especialização em Gerúndio.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

CELULAR EU TE AMO!

domingo, 17 de maio de 2009

Eu ouço a rádio. A bossa. Fico imaginando se as ondas- que onda! - chegariam aos lugares mais distantes que qualquer quantidade de horas de barco, qualquer quantidade e volume de água, bolhas, espuma, chegariam. Vou na difusora: '- Avisa saudades.' Vixe, se treme! Talvez menos árvores para desviar. Talvez menos seios desnudos para olhar. Talvez uma chapinha mal feita, talvez um coque cheio de pudor. Grande rio no peito? Cavaleiro sem medo nenhum. Sou número de topete e ímpar. Sou sol e soul. Sou leão. Hoje sim, tenho peito. Apóio a causa do câncer.

Não esqueço do dia que te dei um sorriso de presente. Nele havia, aos montes, toneladas de sujeiras alheias. Havia sim, a cor do amarelo cor da tua pele suja sem banho. A cor da parede que você queria pintar para parecer menos gélido. Eu me limpei. O branco não é pra todos. É que nem a noiva virgem ao usar. Que piada, noiva. Que piada, virgem. Não distribuo tapinhas nas costas de graça. Não imploro por atenção: Oi?Fala comigo? Você é nova aqui, não vês que esse é meu harém?. Não. Meu cartél é feito por variações pessoais, personificações (adoro essa palavra) do eu mutante. Mutante como a flor laranja que de tanto sol, aquele tão necessário para a vida verde, vira amarela desbotada, como a tua cor pseudo estrangeira. As vezes a gente pode se surpreender. Nesses dias de ventos frios do sul, às vezes me sinto xenofobista. Preciso mandar fazer cobertores de orelhas sob medida.