domingo, 25 de julho de 2010

Tinha problemas conjugais.

Ainda conjugava o verbo na primeira pessoa do plural.

doce

na sua boca sou doce dos mais doces, dos exóticos, dos sem nome, dos sem patente, de tubérculo ou de país. sou doce na sua boca e sinto felicidades coloridas.

Aqui não chove mais.

Olhou pro céu e disse: Vai chover. Olhou pro chão e disseram, alguém disse, por aqui já chove. Ouviu-se outra voz resmungando: Por aqui chovem-se sempre. Motivos tem de fazer lama. Mas de que adianta tanta vontade dessas que molham se o motivo é o que se escolhe? A gente escolhe o que é bom pra gente e pra animal também. Só escolhe o que é ruim quem não sabe bem quem o é. Há os que gostam de emoções molhadas, sejam elas quais forem. Eu não reprimo. Agora, por favor, não me venha chover no meu quintal. Aqui é lugar de coisa feliz, de mãos, de cheiros, sorrisos de flores vermelhas, azuis e amareladas, onde eu mesmo chovo, à minha medida. Não me venha com essas janelas marejadas por que meu óleo de peroba acabou faz tempo. E de madeira podre eu entendo. Troquei minha cerca por um muro de pedras, pra não correr nenhum risco. Troquei meu pé de laranjeira por uma casa de abelhas, que me dão dos mais gostosos méis. Das tempestades da primavera tardia, guardei um copo quebrado e só. Por que o vento leva essas nuvens carregadas de energia negra. Por que o tempo, franzino, nanico, vem, lambe e cicatriza esses augúrios sem cor. Essa nuvem não vem daqui. Aqui não se chove mais. Comprei uma capa de chuva.