terça-feira, 31 de março de 2009

não era só o que faltava. não faltava nada mesmo.

segunda-feira, 30 de março de 2009

constatação

é no nojo e no desgosto que se consegue a paz ao seguir os 3 ésses do ensino médio: Siga Sempre Sorrindo.

piro. respiro. risco.
releio. re choro. re rio.
re coro. vermelho. revivo.
demoro. remorro. re freio.
relento. retorno. re sinto.
re paro. disparo. re lato. re grito.
relapso. remorso. recapto.
calypso. colapso nervoso.
re ódio. re dor. rê à deus.
ao redor adeus rente inconstante.
adeus mente, tu mentes
me despeço com teu semblante
re vês e re clamas ao fim
re julga re xinga re voodooa em mim

eu me perco, também, por papéis com letras quase ilegíveis. consigo decifrar por lembrar exatamente do momento em que escrevi. lembro no movimento dos meus dedos conduzindo o riscar. lembro do sol. lembro do frio. lembro do rio. acho que estou ficando muito regionalista mas também acho que não tem como fugir das influências e da inspiração ao redor.


domingo, 29 de março de 2009

reutilizável

me sinto reciclável e às vezes (mas só às) me sinto bem com isso.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Contos de cantos

Dez para as dez. nove e cinquenta. ônibus cheio de faces estranhas e eu fiz questão de usar a minha melhor (face estranha) ao entrar. não era pior do que eu esperava. bom mesmo é não criar expectativas sobre as coisas. há animais amarrados como bagagens e crianças que em algumas horas estarão exercitando suas cordas vocais de maneira extrema e deseperadora, mesmo que o motivo não seja nem metade do expresso. afinal, é isso que crianças fazem: choram. o calor é o de sempre mas me parece que capricharam no dia de hoje. As vezes eu não vejo fundamento nas pessoas que tomam banho de manhã antes de sair de casa. não adianta muito pois depois de algumas horas já estão fedendo denovo. eu sei, pode parecer ser frescura, mas estou em pleno exercício de desfrescurização, afinal, vou passar alguns longe de casa, chuveiro e cama macia e higiene. É questão de sobrevivência: desfrescurisarás e sobreviverás.

Outra coisa que eu não consigo entender é por que as pessoas não tomam banho nesse calor que faz. As que vivem em lugares frios é até compreensível, mas o que eu acho realmente um absurdo é que se fossem esclarecidas e preocupadas com o meio ambiente, tudo bem, a desculpa seria a preservação dos recursos hídricos, a diminuição de deposição de dejetos químicos advindos dos produtos de limpeza à favor do bem estar do planeta. A gente sabe que é sem vergonhice mesmo.

Abel de Queiróz estava fazendo o seu trabalho, é o que ele fazia de melhor: conferir passagens. Infelizmente nem todas as pessoas que trabalham com venda de passagens de ônibus são pessoas legais como o Abel, que estava apenas fazendo o seu trabalho. Fui bem clara ao dizer: " quero uma poltrona que não pegue sol". Ele não tinha senso de direção e muito menos de humor quando eu perguntei se o nosso ônibus tinha ar-condicionado. Olhou pra mim, por cima das têmporas, deu meio sorriso e disse:"Você acha mesmo?". Eu realmente não achava mas tinha esperanças, oras. No final das contas eu peguei a poltrona premiada que se tivesse placa diria: " parabéns, você vai passar mais de 6h com o sol na moleira". E foi assim que segui viagem rezando para as nuvens me acompanharem.

Depois de buracos, lamas e bois eu acordei molhada de suor e com os ombros ardendo. Pois é, fiquei parecendo a bandeira do Japão por que nuvem nenhuma me acompanhou. Boca do Acre possui o maior rebanho bovino do estado do Amazonas, um frigorífico moderníssimo e muita gente pobre. semelhantes situações encontram-se muito perto das fronteiras. Boca do Acre perdeu uma parte do seu território para o Acre, mas daí já é outra história. Boca do Acre perdeu uma parte do seu território para o rio. e não perdeu por aposta, nem briga ou processo judicial. O rio tem autonomia e soberania sobre tudo e todos ao seu redor. Um praça, uma rua, casas inteiras se foram. Atentos a isso, a prefeitura municipal construiu uma cidade nova, 9 km longe do rio chamada Piquiá. Planejada, livre dos perigos do rio, é bem ajeitadinha. Mas quem disse que os ribeirinhos, as pessoas que moram na beira do rio, querem sair de lá? " Só saio daqui quando o rio me tirar". Ele trabalha como barqueiro atravessando pessoas de um lado pro outro do rio por apenas um real. No lugar onde ficamos ficava bem de frente ao encontro das águas do Rio Acre e do Rio Purus. Do outro lado do rio, Purus, na margem adjascente é um bairro de Boca do Acre chamado São Paulo. Achei graça quando vi o nome. Bem arrumadinho, diferente do outro lado onde a sujeira, o caos e o mal cheiro imperam. tem até quadra de esportes. tem até homossexuais andando na calçada de tijolo que corta todo o bairro. tem até uma fonte de água natural e limpa onde as pessoas enchem seus galões de água e juram ser água potável. com certeza é muito melhor do que beber a água do rio ou pagar 10R$ num galão com água mineral.

O lugar onde ficamos era conhecido meu. o melhor da cidade mas isso não significa muita coisa. não é mérito nenhum ser o menos pior dos piores. pelo menos tinha ar-condicionado (amém). Vassoura, pano de chão há muito tempo não se via por ali. No banheiro o dito box tinha apenas uma parte e eu tinha que deixar no meio e escolher qual lado eu queria molhar menos. era impossível não molhar fora. O chuveiro era voltado para a parede. Logo, para tomar banho, eu tinha que me encostar na parede e roubar um pouco de água que escorria por ela. Imagine a cena. Lembra que eu dei amém quanto ao ar condicionado? Pois é, mas quando vi que ele não tinha filtro nenhum, era apenas um buraco aberto saindo o vento frio do aparelho, meu nariz suspirou triste ao sentir os ácaros prolíferos do ar. No teto tinha um ventilador com uma palheta só e uma luz amarela no meio, daquelas que gastam bastante energia e liberam bastante calor. Agora eu parecia a bandeira da Angola.

(...)

quinta-feira, 26 de março de 2009

como se morrer fosse desaguar

terça-feira, 24 de março de 2009

e parece que foi assim. num piscar de olhos e luzes de cores mil. parece que foi mais rápido que o pensamento, que a lembrança do que foi. as vezes parece que nem foi. a sensação é meio controversa. se pelos olhos viu-se passar tudo aquilo, tenho certeza, mas certeza das grandes que houve sim. houve lá. ouvi. chorei. pulei. rezei. lamentei. sorri. cantei. chorei no canto. eu vi, eu e mais trinta décadas de pessoas. molhei de água do céu e daqui. foi lindo. mais lindo do que eu pudesse um dia imaginar. talvez pudesse ter sido melhor. compartilhar é um dom e sentir é outro. Mas chorar por si só com os olhos cheios do que eu vi, só eu sei e quem ouviu sabe o que houve lá pra contar.

enxugo lágrimas los hermânicas e radioheadiânicas com sorrisos.

terça-feira, 17 de março de 2009

Espinha de peixe

voltei. voltei temperada com pimenta
biribá, bacurí, cacau, pouco sal
voltei ácida, citricamente falando, azeda.
voltei com outros olhos
engasgada com espinha de peixe
farinha nenhuma desentala
paca, porcos e parcas lembranças
períneos outrora invioláveis pedem socorro
voltei hepática da infância
voltei quase sem sangue, não me pediam permissão
me circula melhor, aqui
queixada, piaba, filhote, que achas?
tambaqui pergunta o por quê
caldo, óleo, água suja, fígado, dor
vento eu até que tento sentir
com as espinhas fiquei mais forte
ouse e viro porco-espinho ou cateto
sem jeito
ouse que te lanço pelos olhos
fagulhas
sobre teu chão passado
cuspo teus passos
pois aonde não há patente
não se vomita só a flor: espinho também.

domingo, 8 de março de 2009

8 de Março

Dizem que hoje é o Dia internacional das Mulheres. Eu não acredito no que eles dizem. Eu acredito é na Rapaziada.

sábado, 7 de março de 2009

sinto nojo do ínfimo covarde íntimo exposto sem dó ou dô.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Fotossíntese Infantil

O povo brasileiro, como todos sabemos, é de uma riqueza de misturas de povos, genes e características que, todas juntas em uma só, são únicas. Vai me dizer que um africano não gostaria de ter o privilégio da carga genética brasileira. Talvez ele nem tenha noção da magnitude da palavra, ou nem saiba o que significa a palavra riqueza e muito menos genética. Mas se eu fosse de outra etnia, com certeza teria inveja. Inveja das boas, claro.

O acreano, povo particular, muitas vezes me intriga. Mas me intriga muito. Quem conhece um pouco da história sabe que muitos dos genes que aqui habitam dentro das células desses acreanistas, são provenientes dos agrestes de sol e mar, daquela imensidão seca ou apenas aquele deserto de areia nordestino do Brasil, por que o nordeste do Canadá, por exemplo, nada tem a ver com o brasileiro. Muitos dos nordestinos têm descendência européia. Espanhóis, Alemães, e até árabes, sempre digo. E nas aulas de história e geografia que conseguiam chamar minha atenção, diziam também. Vindos em busca do novo mundo, das riquezas brasileras, das nossas florestas, do ouro e tudo mais, passaram pelos portos da costa do Brasil, adentrando-se no mundo desconhecido e disseminando suas mazelas e maravilhas. Aquela cabeça achatada, narizes e orelhas meio assimétricos com certeza são variações mal sucedidas do povo do narigão (árabe). Assim como esse sotaque tão interessante que com certeza deve ter raízes além da nossa língua morta, que continua a se mutar. Há gente que fala um dialeto próprio, cujos verbetes nem sonham em se encontrar em aurélios da vida.

Eu acho uma coisa de louco identificar características de tão longe em pessoas daqui. Estava eu, em toda a minha paciência que tenho, esperando um ônibus que me leva até em casa, lendo o novo livro que comecei a ler hoje mesmo. Abro parêntesis: quando começo a ler um livro novo, fico que nem criança com brinquedo novo, aliás, como tudo que é novo, tenho essa vontade de ter até o fim, até cansar, até a coluna doer mais que o suportável, até os meus olhos começarem a se dilatar e pular pra fora. Eu conheço pessoas que têm os olhos saltados para fora. Feliz seria o Brasil se fosse de cultura lida pelos mesmos. Sou adepta à, há muito tempo derrubada, Teoria de Lamarck, ou a do uso e desuso. Fecho parêntesis.

Ao meu lado, uma senhora morena, morena normal, morena das cores que encontramos por aqui. Diferente do negro do Zimbábue, ou do moreno dourado dos indianos. Aqui os indígenas que deram a cor do tom moreno junto aos nordestinos. Lembrando que nordestino não é povo e nem etinia. Não falo com tom depreciativo, mesmo porque, sou fruto dessa mistura e até me orgulho dessa exoticidade. Longe de mim o xenofobismo interpopulacional. Eu nem sei se isso existe mesmo.

Era morena, normal, com uma criança morena idem com uma peculiaridade muito comum por essas bandas: os cabelos loiros. Não consigo entender de onde vêm essas características que com o passar do tempo somem no tempo. Se fosse pela lei dos caracteres adquiridos, primórdios das experiências de Darwin, a explicação seria muito simples: sua genitora, gostava muito de é o tchan e de suas sheilas, particularmente a loira, que pintou seus cabelos de loiro e esses cabelos passaram para a sua filha. simples assim. Mas não. Se existem estudos sobre esse tipo de variação fenotípica peculiar nas crianças eu não sei. O que eu sei é que crianças não são como folhas, como plantas que nascem de uma forma e depois se transformam em outra totalmente ou não diferente do que eram. Aliás, é uma característica inerente do ser humano que seus filhos, descendentes, seja uma cópia idêntica de si mesmo daqui a alguns anos, só que em miniatura. Os tais hominídios da ciência dos séculos passados. Voltando aos cabelos. As folhas de algumas plantas nascem de cores diferentes, dependendo do tipo de função que ela tem, com certos pigmentos diferentes da clorofila, dependendo da planta. Sim plantas de espécies diferentes possuem características diferentes entre si. E o homo sapiens? Mesma espécie e variações tão grandes de indivíduo para indivíduo. Claro, tudo produto do meio e do ambiente. Não do meio ambiente pois ambos são sinônimos. chega de redundância.


O que faz uma criança que não tem tendência nenhuma aos cabelos loiros (naturais) tê-los quando criança? Sou adepta à teoria da Fotossíntese infantil. Parêntesis: Essa teoria eu inventei sem nenhum argumento cientificamente comprovado, apenas por observações minhas, tenho dito. Fecho parêntesis. Não é doença. É uma adaptação das crianças que vivem num ambiente não muito saudável, com condições não tão adequadas para o bom desenvolvimento, alimentação deficiente, higiene duvidosa e excesso de luz na pele. Sintomas de problemas hepáticos? Cor esverdeada nos olhos e na pele. Clorofila. Cabelos loiros? Xantofila. Pigmentos fotossintetizantes usados pelas plantas para obter alimento a partir de gás carbônico e luz. Pigmentos usados por crianças acreanas para complementação nutricional, uma forma de seleção natural para a sobrevivência das mesmas em condições inapropriadas em um Acre tão rico em diversidade e desigualdade.

fotos por Talita Oliveira

terça-feira, 3 de março de 2009

Escrito nas mãos.

Foi assim, mesmo antes de nascer aquela incerteza. Lista de nomes femininos, lista de nomes masculinos e lista de nomes unissex. Eu sempre quis saber quais eram os nomes unissex, mas achei que não faria bem para a formação do meu caráter na infância. Enfim, depois de alguns meses mesmo com a confirmação do exame, o médico, ao puxar-me pelas mãos do ventre de minha mãe, disse: é um menino, veja que mãos grossas! Os outros médicos olharam abismados para mim, eu ainda com os olhos fechados tentando respirar gritei: "sou mulher, ora porra!". E eu nascia com um vocabulário vasto e com orelhas avantajadas, provindas de meus genes nordestinos paternos e patéticos. Minha mãe muitas vezes foi uma pessoa inteligente. Na verdade, acho que ela sempre foi.

Quando entrei na escola, no jardim de infância, minha afinidade me levava à ala dos que gostavam de azul. Nunca fui aceita na rodinha das que usavam rosa e brincavam de serem mães tão precocemente, sem conhecimento de métodos contraceptivos. Nesse aspecto, eu sempre fui a última a fazer tudo. E tudo inclui tudo mesmo. Eu brincava de pegar ladrão, andava de patins.Caía. Ralava os joelhos e tornozelos. Sempre tive o andar meio torto. Eles me pegavam pela mão e me chamavam de parceira. Eu gostava daquilo.

Colocaram-me na aula de balé, sapateado, jazz, piano, xadrez (veja só, xadrez!), natação. Eu me coloquei nas artes marciais. Para a tristeza de uma mãe que queria uma filha feminina, com amigas no quarto rosa, foi mais uma surpresa. Eu sempre dei muitas emoções pra minha mãe e me orgulho disso. No Kung fu eu podia ser tudo aquilo que gostaria ser sem deixar de ser quem eu era. Complicado, eu sei, mas só eu sei. Com as minhas mãos que dificilmente tinham calos, mais uma vez me destacava dentre aqueles que estavam ali para se auto afirmar, para aprender a brigar na rua ou pagar de admiradores das coisas exóticas do oriente. Segurei forte as oportunidades que tive. Fui até as últimas do meu corpo e dos meus joelhos. Com as mãos. Sobre elas, eu tentava explicar que era genético, herdado, mas gostava de pensar que eram só minhas e eu tinha o privilégio de tê-las minhas em todo o meu egoísmo manístico. humanístico de certa forma.

Larguei as cordas de violão e guitarra para usar minhas mãos na bateria. Me achei denovo. Sempre soube que não era da minha essência tanta sutileza harmônica. Tons, batuques, ritmos, velocidade, bit, vibe, emoção, adrenalina, extasy. O que importa é aquela coisa que eu não sei explicar, aquela mágica da música que entra. A música é uma coisa maravilhosa. Tudo do corpo, da alma, das mãos. Deu até vontade de chorar agora.

Enquanto isso, cumprimentando pessoas que se assustavam, levantei e dei os dois passos mais importantes da minha vida: passo na faculdade e passo a ter consciência do que vou um dia ser. Essas coisas de natureza nunca foram meu forte mas estava escrito nas mãos. Quem diria que um dia eu, pequena menina burguesa mimada, pegaria numa enxada, cavaria solos, tocaria árvores, sentiria a textura do pêlo macio de um bicho-preguiça, faria cálculos volumétricos ou mesmo faria manejo de frutíferas na beira de um rio tão grande, mas tão grande quanto a incerteza, de barco quase dentro dele, do rio, quase parte do fio do horizonte. Ninguém diria.

Não há creme hidratante que dê jeito. Tratamento de estética, macumba ou promessa para são-qualquer-coisa. Não há cartomante ou cigana que diga o contrário. O meu destino? Ora o meu destino quem diria: está escrito nas mãos.

Olhos de noites tristes.

noite triste por olhos idem declama fluidos abaixo. verbos vagos outrora ricos se perdem em meio ao mar de dor. as árvores podem sentir quando o vento vem na tentativa fracassada de secar os molhados. eu posso ver muitas verdades saindo de lá que só eu e salvador dali, acreditaríamos. é triste sim. mais triste por que não tem volta. mais triste por ter que fingir que não se importa. mais triste ver que foi tudo para um abismo sem fim. jogo pro tempo resolver na esperança de vê-lo resolvido. por entre memórias de olhos tristes de noites tristes de vidas tristes, calo e ouço. boca cerrada por pregos a transbordar lástimas, estas que saem por todo o corpo. sinto estar à beira de um fim que não se sabe ao certo qual deles será. que seja o menos doloroso, por fim. que seja o menos infeliz, por mim.

segunda-feira, 2 de março de 2009

tenho medo de confissão
não pelo sermão
(nem batismo tive)
segundo minha vó, não vou pro céu mesmo.
tenho medo de não sentir culpa
ou como diz a música: eu caçador de rins.
minha culpa engulo num copo de vidro
sujo de sangue e sebo de mãos compartilhadas
sem a escolha que não teve
de escolher ou permitir
tenho raiva do meu lado escuro.