Era daquelas pessoas paralisadas. Paralisadas no tempo, no espaço e no lugar. Tinha dois sonhos. Daqueles simples que, se a vida não tivesse virado 1° pra direita, não seria sonho, seria apenas uma rotina. Tivera uma febre de 3o dias. Sua mãe morreu cedo. Tinha mais ou menos uns 50 anos. Ou menos. O sofrimento envelhece e dá pés de galinha para qualquer vinteoitão que se acha invencível por tudo, inclusive pelo tempo. Ele nem se achava, queria mesmo é sonhar. Devido à febre ficou doente pro resto de sua vida. ainda tem um resto. Ao confessar sobre o que tinha acontecido, senti uma certa umidade nos olhos daquele senhor e eu confesso que dos meus, quase escaparam alguns úmidos. Não tinha os movimentos das mãos. Eram apenas pêndulos moles, sem controle que, à medida que ele tentava controlá-las , balançavam que nem uma maria mole com cheiro e cara de pele. Acho que tinha paralisia na língua também ou talvez fosse apenas a falta de dentes que dificultava uma dicção compreensível. Ele fazia tudo sozinho. Todos os dias de manhã pegava o saco de estopa com os punhos, na verdade usava o osso das mãos para sustentar o peso, arrastava com suas pernas pesadas (também tinha problemas nos pés, eram pela metade e sempre enrrolados em faixas). Pra enxugar o suor do esforço, punhos na testa. Incrivelmente conseguia tirar saquinho por saquinho, caixinha por caixinha e montar uma bandeja de balas, chicletes, jujubas e pirulitos sobre um banquinho de madeira.
- "Meus sonhos eram: aprender a ler e ser escritor." Tirou do saco um caderninho amassado de capa mole. Coqueiros e um mar azul.
- "Veja. eu que escrevi. Na verdade não escrevi, eu ditei e a minha vizinha escreveu pra mim. " Eram poesias. Eu já estava quase chorando.
O primeiro verso, o único que me lembro, dizia:
-"Um dia eu ainda vou publicar um livro. Vou largar essa banquinha de doces e vou ser famoso. Obrigada minha filha, por ajudar a montar a minha banquinha. Deus te dê todas as coias boas que ele não deu pra mim."
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Entrei no Ufac soluçando e pensando: hora de escrever um projeto.
- "Meus sonhos eram: aprender a ler e ser escritor." Tirou do saco um caderninho amassado de capa mole. Coqueiros e um mar azul.
- "Veja. eu que escrevi. Na verdade não escrevi, eu ditei e a minha vizinha escreveu pra mim. " Eram poesias. Eu já estava quase chorando.
O primeiro verso, o único que me lembro, dizia:
Não há tesouro no mundo capaz de ser maior que minha mãezinha
Não há tesouro maior, nem nos mares há.(...)
-"Um dia eu ainda vou publicar um livro. Vou largar essa banquinha de doces e vou ser famoso. Obrigada minha filha, por ajudar a montar a minha banquinha. Deus te dê todas as coias boas que ele não deu pra mim."
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Entrei no Ufac soluçando e pensando: hora de escrever um projeto.
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