domingo, 8 de novembro de 2009

8 dias

Engraçado passear sobre a vida alheia. sempre são mais bonitos, mais felizes. a grama do quintal é mais verde. a samambaia da sala também. seus empregos são melhores, suas noites são mais bem dormidas, seus banheiros não tem vazamentos, seus sorrisos sempre cogates. seus cafés da manhã sempre vastos, seus carros sempre limpos com cheiro de perfume importado. seus celulares da moda inquebráveis cobertos de garantias de um ano. Seus cachorros não fedem, tomam banho todos os fins de semana e também não comem comida. só ração. seus quartos tem ar-condicionado e eles não passam calor. seus pais são um casal feliz, sem problemas de alcolismo, drogas, cigarros e nem de dinheiro. em suas casas reina a paz e o silêncio ensurdecedor de badulaques de madeira se chocando com o vento.

seus controles remotos são universais. Tv, Sky e Dvd. Engraçado a quantidade canais e as vezes não se consegue parar nem um minuto pra conversar sobre como foi o dia. sobre os planos, sobre as contas, sobre as conquistas das batalhas diárias, sobre as decepções com os amigos e desamigos. soma-se 60 horas semanais de amargura e apenas uns segundo de olhares cândidos à orquídea que nasceu no jardim esta manhã. some-se sorrisos esperanços com a vontade durmir e nunca mais acordar, até o dia que tudo estiver diferente. soma aí a idade, a idade dos filhos divida por três e terá vizinhos festejando na sala ao lado enquanto você come brigadeiro duro, da noite passada, lendo a coluna social e concordando que os cosméticos da Adcos podem até ser bons, mas nada é páreo para o apelo ambiental da Natura.

Concordando que chapéus de cowboys não combinam com qualquer pessoa, a não ser que seja uma vaca ou um touro. Chifres não aparecem nas linhas do jornal, mas a moça é expulsa da faculdade por usar roupa curta e os homens, filhos da puta, falsos moralistas e hipócritas se sentem em fim justiçados, quando na verdade estavam esperando na fila do banheiro para fazer uma singela homenagem à moça.

Quanta gente nojenta, quanta gente podre e eu me pergunto se faço parte disso tudo por opção ou por falta de. Penso que apenas mudar de país não vai ser suficiente para a minha evolução por que ainda existe a internet que consegue ligar mundos distantes. Penso que talvez se me mudasse pra lua, ia sentir falta dessa muvuca que é a terra e dessa putaria que chamam de socialização do conhecimento e da falta de conhecimento do que as vezes é o que importa mais: os sentimentos. Vou saber daqui a oito dias se meu leve descontrole vai cruzar o atlântico.

Nenhum comentário: