sábado, 31 de julho de 2010

Das pontas duplas 1#

Estivemos pensando, eu, meu eu lírico e minhas pontas duplas, o quão bom é estar do outro lado. Do outro lado, se tem olhos diferentes. Se tem emoções e comportamentos distintos. Bom seria se eu soubesse que era tão bom estar do lado de lá, onde fala-se o que quer, onde inferniza-se quem pode. Coisa boa é não ter nada preso na quina na porta. Coisa boa é poder falar de boca cheia: quem tem com que me pagar, nada me deve.

Das pontas duplas 2#

Estive olhando pra ver se te encontrava pelo meio dos vazios das sombras que se faziam pessoas. Não te encontrei. Queria te ouvir dizer que sou seu orgulho, que meu cabelo fica legal naquela luz ou que sei lá, estou diferente, que queria fazer coisas que eu faço, como dizia quando não tinhamos problemas em usar roupas iguais. Mas você não estava lá e a minha agonia é tanta, que te vejo travestida de desconhecidas. Com cabelos e cores parecidas. Com aqueles olhos que vezes me matavam por dentro, mas sendo quem sou, quase ninguém sabia. Só nós. Eu, meu eu lírico e minhas pontas duplas. Eram luzes e mais luzes e eu tendo dificuldade de escolher uma só que me agradasse mais. Eram vozes e vozes, mas nenhuma parecida com a sua. Nenhuma parecida com a minha. Ficou um buraco que, de vez em quando preencho, pra que elas- as aranhas- não tomem conta. Por que com o tempo, as coisas tem que ser diferentes. Não é opção. É obrigação. Vamos cortar os cabelos juntas?

quarta-feira, 28 de julho de 2010

que tal morrer
um pedacinho por mês?

domingo, 25 de julho de 2010

Tinha problemas conjugais.

Ainda conjugava o verbo na primeira pessoa do plural.

doce

na sua boca sou doce dos mais doces, dos exóticos, dos sem nome, dos sem patente, de tubérculo ou de país. sou doce na sua boca e sinto felicidades coloridas.

Aqui não chove mais.

Olhou pro céu e disse: Vai chover. Olhou pro chão e disseram, alguém disse, por aqui já chove. Ouviu-se outra voz resmungando: Por aqui chovem-se sempre. Motivos tem de fazer lama. Mas de que adianta tanta vontade dessas que molham se o motivo é o que se escolhe? A gente escolhe o que é bom pra gente e pra animal também. Só escolhe o que é ruim quem não sabe bem quem o é. Há os que gostam de emoções molhadas, sejam elas quais forem. Eu não reprimo. Agora, por favor, não me venha chover no meu quintal. Aqui é lugar de coisa feliz, de mãos, de cheiros, sorrisos de flores vermelhas, azuis e amareladas, onde eu mesmo chovo, à minha medida. Não me venha com essas janelas marejadas por que meu óleo de peroba acabou faz tempo. E de madeira podre eu entendo. Troquei minha cerca por um muro de pedras, pra não correr nenhum risco. Troquei meu pé de laranjeira por uma casa de abelhas, que me dão dos mais gostosos méis. Das tempestades da primavera tardia, guardei um copo quebrado e só. Por que o vento leva essas nuvens carregadas de energia negra. Por que o tempo, franzino, nanico, vem, lambe e cicatriza esses augúrios sem cor. Essa nuvem não vem daqui. Aqui não se chove mais. Comprei uma capa de chuva.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

aprendi que contos não precisam fazer sentido para serem sentidos.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Dos herros de portuges

Não quero livrar-me dos erros de português. Tenho apego. Gosto muito dos meus.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Nunca julgue ninguém pelas unhas que têm.

do descontrole pipocal

Sou daquelas pessoas que se descontrolam com um saco de pipoca doce (ou serei a única?). Não dá pra comer devagar, nem pouco. O negócio é colocar o quanto couber na boca e nunca, mas nunca, deixá-la vazia. Por que boca vazia é casa do diabo, já dizem. E enquanto ele estiver por aqui, junto ao tártaro, cáries e bactérias derivadas, venenos e anticorpos, coagulantes e antígenos, a casa será colorida com anilina. Por que nem de todo preto é feita a dor dos descoloridos.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

quero uma janela que escorra água da chuva,
quando esta resolver aparecer pelas bandas daqui.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

D'o comedor

Oi, não tenho amigos. É, pode parecer triste, mas de vez em quando é bom. Tenho certos problemas com relações íntimas pois elas se partem, se morrem, se despedaçam, também, literalmente. Prefiro a distância, que me faz forte, destemido, me mantém anônimo pra comer quem e o que eu quiser. Sou comilão, muitos dizem que sou guloso, mas sei lá, me acho apenas uma pessoa apaixonada pelas pessoas, e quando digo pessoas, digo partes, pedaços e por inteiro. Como num açougue. Escolho a parte que me cabe, que fica bem em mim e como.


Procuro fazer amigos apenas por um objetivo: comê-los. E a escolha é sempre feita seguindo sempre os mesmos critérios: influência. As vezes os amigos dos amigos, me parecem interessantes. Quero ser que nem eles, mas não posso. Quero enxergar que nem eles, mas não tenho olhos. Quero sentir como eles sentem, mas não tenho apenas um sentimento. Me perco dentre os vários que permeiam dentro de mim, que acabei roubando, ingerindo por outros intestinos delgados.


Tem amigos meus, os considerados de coração, sabe?, que eu começo comendo pelos dedos. São aqueles que escrevem bem, que falam verdades, mentiras, alucinações, ou mesmo textos e textos de auto-ajuda. Adoro quem se auto ajuda. Acho tão bonito. Vou lá e como. Como tudinho, cada partezinha das falanges magras. Mas nunca comi uma mão gordinha. Gosto das unhas também, das mulheres claro. Principalmente daquelas pintadas de vermelho. Vermelho me lembra sangue, que me lembra morte - adoro morrer- que me lembra comida.


Já comi olhos. Das mais diversas cores, formatos e sabores. Comi alguns aromatizados e coloridos artificialmente. Foi normal. Comi cérebros, mas ainda não comi o bastante, não me tornei inteligente e a cada dia que passa, está ficando mais difícil. Já comi corações de gente não muito boa, é dificil encontrar um que preste. Prefiro o de galinha. Comi bocas, à força, claro. É difícil convencer alguém se aproximar de mim sem ter uma boa desculpa. Nada melhor que a obrigação pra me livrar da repulsa.


Já comi cada coisa que é melhor nem comentar. Hoje em dia, sou um cara que come, mas come por orgulho. Sou daqueles que acha que não há mal em querer as coisas dos outros pra si. Afinal, a vida é um desejo só. Ter amigos perto de mim, mesmo que o perto seja dentro, é o que eu quero. Se não quiser ser meu amigo, te como. Simples assim.