quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Infância fachada

As vezes eu fecho os olhos e me transporto para os lugares da minha infância. Literalmente eu viajo na maionese,viajo pelos caminhos tortuosos da massa de matiz não tão preta. Portas emperradas, mesa torta. Ando por corredores, sinto nas mãos a textura de maçanetas antigas, abro janelas marrons e dou de cara com a luz cegante. Deito em camas bagunçadas com lencóis furados. Poeira preta. Dejetos de morcegos do andar de cima. Forros aos pedaços. Banheiros com cheiro de barata. Corredores longos, escadas, jardins suspensos, quarto inacabado. Cama quebrada, quarto acabado. Escuridão. Pé de mamão macho. Tijolos quebrados. Caixa d'água. Samambaia a definhar. Casinha de cachorro. côcô. lodo. líquens. musgo. grades e azulejos quebrados. No meio do caminho pra saída: Ei, aqui existia uma casinha de boneca feita de madeira. Madeira feita de boneca. Eu era feita de madeira no meio do asfalto. Eu comia cimento.Eu queria apenas conhecer as pessoas que passavam na rua. Eu as via com listras no corpo. Minha ótica por dentro das grades.