quinta-feira, 1 de julho de 2010

D'o comedor

Oi, não tenho amigos. É, pode parecer triste, mas de vez em quando é bom. Tenho certos problemas com relações íntimas pois elas se partem, se morrem, se despedaçam, também, literalmente. Prefiro a distância, que me faz forte, destemido, me mantém anônimo pra comer quem e o que eu quiser. Sou comilão, muitos dizem que sou guloso, mas sei lá, me acho apenas uma pessoa apaixonada pelas pessoas, e quando digo pessoas, digo partes, pedaços e por inteiro. Como num açougue. Escolho a parte que me cabe, que fica bem em mim e como.


Procuro fazer amigos apenas por um objetivo: comê-los. E a escolha é sempre feita seguindo sempre os mesmos critérios: influência. As vezes os amigos dos amigos, me parecem interessantes. Quero ser que nem eles, mas não posso. Quero enxergar que nem eles, mas não tenho olhos. Quero sentir como eles sentem, mas não tenho apenas um sentimento. Me perco dentre os vários que permeiam dentro de mim, que acabei roubando, ingerindo por outros intestinos delgados.


Tem amigos meus, os considerados de coração, sabe?, que eu começo comendo pelos dedos. São aqueles que escrevem bem, que falam verdades, mentiras, alucinações, ou mesmo textos e textos de auto-ajuda. Adoro quem se auto ajuda. Acho tão bonito. Vou lá e como. Como tudinho, cada partezinha das falanges magras. Mas nunca comi uma mão gordinha. Gosto das unhas também, das mulheres claro. Principalmente daquelas pintadas de vermelho. Vermelho me lembra sangue, que me lembra morte - adoro morrer- que me lembra comida.


Já comi olhos. Das mais diversas cores, formatos e sabores. Comi alguns aromatizados e coloridos artificialmente. Foi normal. Comi cérebros, mas ainda não comi o bastante, não me tornei inteligente e a cada dia que passa, está ficando mais difícil. Já comi corações de gente não muito boa, é dificil encontrar um que preste. Prefiro o de galinha. Comi bocas, à força, claro. É difícil convencer alguém se aproximar de mim sem ter uma boa desculpa. Nada melhor que a obrigação pra me livrar da repulsa.


Já comi cada coisa que é melhor nem comentar. Hoje em dia, sou um cara que come, mas come por orgulho. Sou daqueles que acha que não há mal em querer as coisas dos outros pra si. Afinal, a vida é um desejo só. Ter amigos perto de mim, mesmo que o perto seja dentro, é o que eu quero. Se não quiser ser meu amigo, te como. Simples assim.