Aquelas horinhas que antecediam o amanhecer eram as mais cruéis.Ter que ouvir o galo cantar antecipado,nervoso,desafinado e com pressa de me tirar do lugar onde eu queria ficar parada ali, olhando a sombra cinza pro resto da minha vida,era frustrante.
O palavrão-delícia na boca rosa tem gosto ácido mas é doce,tem um quê de agressividade mas é terno,tem a violência das palavras que entram pelo ouvido e vão direto no estômago mas ao mesmo tempo faz carinho nos ouvidos que as ouvem.A violência de não querer dormir sozinho com os galos.E junto às luzes do poste da rua fria ,as luzes de natal me fazem querer paralizar aquele momento e matar o enforcado o esgalamido galo ao lado.
Maldito galo quer me tirar do lugar onde eu queria criar raízes, daquelas que vão fundo,axiais,pivotantes ou até mesmo as adventícias que dão base sólida para uma árvore grande porte.Árvore esta que eu construo,diferentemente das que estamos acostumados a ver por ai,d'onde de uma sementinha que germina com todo o amor e carinho do solo e forma primeiramente uma plântula,uma muda e depois quem sabe um arbusto ou uma árvore.A minha árvore não é assim, eu construo todos os dias um pedaço dela,com o mesmo amor.E pra cada dia meu, desses que o galo incomoda,uma camada considerável de células xilemáticas,floemáticas e parenquimáticas vai sendo incrementada à minha árvore.Já passaram das raízes, pois a árvore já consegue ficar em pé, se sustentar sozinha e estão no caule até chegarem as folhas, flores e frutos.E antes mesmo de chegarem as folhas e as flores,eu sei que o fruto estará maduro,por que como eu sou uma garota esperta,todo os dias ao construir a minha árvore eu já estou trabalhando o fruto para que quando chegar a hora ele esteja pronto para que eu tenha o prazer de colhê-lo.O mesmo prazer que eu tenho em cultivá-lo.
Muitas
Há 4 anos