Dez para as dez. nove e cinquenta. ônibus cheio de faces estranhas e eu fiz questão de usar a minha melhor (face estranha) ao entrar. não era pior do que eu esperava. bom mesmo é não criar expectativas sobre as coisas. há animais amarrados como bagagens e crianças que em algumas horas estarão exercitando suas cordas vocais de maneira extrema e deseperadora, mesmo que o motivo não seja nem metade do expresso. afinal, é isso que crianças fazem: choram. o calor é o de sempre mas me parece que capricharam no dia de hoje. As vezes eu não vejo fundamento nas pessoas que tomam banho de manhã antes de sair de casa. não adianta muito pois depois de algumas horas já estão fedendo denovo. eu sei, pode parecer ser frescura, mas estou em pleno exercício de desfrescurização, afinal, vou passar alguns longe de casa, chuveiro e cama macia e higiene. É questão de sobrevivência: desfrescurisarás e sobreviverás.
Outra coisa que eu não consigo entender é por que as pessoas não tomam banho nesse calor que faz. As que vivem em lugares frios é até compreensível, mas o que eu acho realmente um absurdo é que se fossem esclarecidas e preocupadas com o meio ambiente, tudo bem, a desculpa seria a preservação dos recursos hídricos, a diminuição de deposição de dejetos químicos advindos dos produtos de limpeza à favor do bem estar do planeta. A gente sabe que é sem vergonhice mesmo.
Abel de Queiróz estava fazendo o seu trabalho, é o que ele fazia de melhor: conferir passagens. Infelizmente nem todas as pessoas que trabalham com venda de passagens de ônibus são pessoas legais como o Abel, que estava apenas fazendo o seu trabalho. Fui bem clara ao dizer: " quero uma poltrona que não pegue sol". Ele não tinha senso de direção e muito menos de humor quando eu perguntei se o nosso ônibus tinha ar-condicionado. Olhou pra mim, por cima das têmporas, deu meio sorriso e disse:"Você acha mesmo?". Eu realmente não achava mas tinha esperanças, oras. No final das contas eu peguei a poltrona premiada que se tivesse placa diria: " parabéns, você vai passar mais de 6h com o sol na moleira". E foi assim que segui viagem rezando para as nuvens me acompanharem.
Depois de buracos, lamas e bois eu acordei molhada de suor e com os ombros ardendo. Pois é, fiquei parecendo a bandeira do Japão por que nuvem nenhuma me acompanhou. Boca do Acre possui o maior rebanho bovino do estado do Amazonas, um frigorífico moderníssimo e muita gente pobre. semelhantes situações encontram-se muito perto das fronteiras. Boca do Acre perdeu uma parte do seu território para o Acre, mas daí já é outra história. Boca do Acre perdeu uma parte do seu território para o rio. e não perdeu por aposta, nem briga ou processo judicial. O rio tem autonomia e soberania sobre tudo e todos ao seu redor. Um praça, uma rua, casas inteiras se foram. Atentos a isso, a prefeitura municipal construiu uma cidade nova, 9 km longe do rio chamada Piquiá. Planejada, livre dos perigos do rio, é bem ajeitadinha. Mas quem disse que os ribeirinhos, as pessoas que moram na beira do rio, querem sair de lá? " Só saio daqui quando o rio me tirar". Ele trabalha como barqueiro atravessando pessoas de um lado pro outro do rio por apenas um real. No lugar onde ficamos ficava bem de frente ao encontro das águas do Rio Acre e do Rio Purus. Do outro lado do rio, Purus, na margem adjascente é um bairro de Boca do Acre chamado São Paulo. Achei graça quando vi o nome. Bem arrumadinho, diferente do outro lado onde a sujeira, o caos e o mal cheiro imperam. tem até quadra de esportes. tem até homossexuais andando na calçada de tijolo que corta todo o bairro. tem até uma fonte de água natural e limpa onde as pessoas enchem seus galões de água e juram ser água potável. com certeza é muito melhor do que beber a água do rio ou pagar 10R$ num galão com água mineral.
O lugar onde ficamos era conhecido meu. o melhor da cidade mas isso não significa muita coisa. não é mérito nenhum ser o menos pior dos piores. pelo menos tinha ar-condicionado (amém). Vassoura, pano de chão há muito tempo não se via por ali. No banheiro o dito box tinha apenas uma parte e eu tinha que deixar no meio e escolher qual lado eu queria molhar menos. era impossível não molhar fora. O chuveiro era voltado para a parede. Logo, para tomar banho, eu tinha que me encostar na parede e roubar um pouco de água que escorria por ela. Imagine a cena. Lembra que eu dei amém quanto ao ar condicionado? Pois é, mas quando vi que ele não tinha filtro nenhum, era apenas um buraco aberto saindo o vento frio do aparelho, meu nariz suspirou triste ao sentir os ácaros prolíferos do ar. No teto tinha um ventilador com uma palheta só e uma luz amarela no meio, daquelas que gastam bastante energia e liberam bastante calor. Agora eu parecia a bandeira da Angola.
(...)
Outra coisa que eu não consigo entender é por que as pessoas não tomam banho nesse calor que faz. As que vivem em lugares frios é até compreensível, mas o que eu acho realmente um absurdo é que se fossem esclarecidas e preocupadas com o meio ambiente, tudo bem, a desculpa seria a preservação dos recursos hídricos, a diminuição de deposição de dejetos químicos advindos dos produtos de limpeza à favor do bem estar do planeta. A gente sabe que é sem vergonhice mesmo.
Abel de Queiróz estava fazendo o seu trabalho, é o que ele fazia de melhor: conferir passagens. Infelizmente nem todas as pessoas que trabalham com venda de passagens de ônibus são pessoas legais como o Abel, que estava apenas fazendo o seu trabalho. Fui bem clara ao dizer: " quero uma poltrona que não pegue sol". Ele não tinha senso de direção e muito menos de humor quando eu perguntei se o nosso ônibus tinha ar-condicionado. Olhou pra mim, por cima das têmporas, deu meio sorriso e disse:"Você acha mesmo?". Eu realmente não achava mas tinha esperanças, oras. No final das contas eu peguei a poltrona premiada que se tivesse placa diria: " parabéns, você vai passar mais de 6h com o sol na moleira". E foi assim que segui viagem rezando para as nuvens me acompanharem.
Depois de buracos, lamas e bois eu acordei molhada de suor e com os ombros ardendo. Pois é, fiquei parecendo a bandeira do Japão por que nuvem nenhuma me acompanhou. Boca do Acre possui o maior rebanho bovino do estado do Amazonas, um frigorífico moderníssimo e muita gente pobre. semelhantes situações encontram-se muito perto das fronteiras. Boca do Acre perdeu uma parte do seu território para o Acre, mas daí já é outra história. Boca do Acre perdeu uma parte do seu território para o rio. e não perdeu por aposta, nem briga ou processo judicial. O rio tem autonomia e soberania sobre tudo e todos ao seu redor. Um praça, uma rua, casas inteiras se foram. Atentos a isso, a prefeitura municipal construiu uma cidade nova, 9 km longe do rio chamada Piquiá. Planejada, livre dos perigos do rio, é bem ajeitadinha. Mas quem disse que os ribeirinhos, as pessoas que moram na beira do rio, querem sair de lá? " Só saio daqui quando o rio me tirar". Ele trabalha como barqueiro atravessando pessoas de um lado pro outro do rio por apenas um real. No lugar onde ficamos ficava bem de frente ao encontro das águas do Rio Acre e do Rio Purus. Do outro lado do rio, Purus, na margem adjascente é um bairro de Boca do Acre chamado São Paulo. Achei graça quando vi o nome. Bem arrumadinho, diferente do outro lado onde a sujeira, o caos e o mal cheiro imperam. tem até quadra de esportes. tem até homossexuais andando na calçada de tijolo que corta todo o bairro. tem até uma fonte de água natural e limpa onde as pessoas enchem seus galões de água e juram ser água potável. com certeza é muito melhor do que beber a água do rio ou pagar 10R$ num galão com água mineral.
O lugar onde ficamos era conhecido meu. o melhor da cidade mas isso não significa muita coisa. não é mérito nenhum ser o menos pior dos piores. pelo menos tinha ar-condicionado (amém). Vassoura, pano de chão há muito tempo não se via por ali. No banheiro o dito box tinha apenas uma parte e eu tinha que deixar no meio e escolher qual lado eu queria molhar menos. era impossível não molhar fora. O chuveiro era voltado para a parede. Logo, para tomar banho, eu tinha que me encostar na parede e roubar um pouco de água que escorria por ela. Imagine a cena. Lembra que eu dei amém quanto ao ar condicionado? Pois é, mas quando vi que ele não tinha filtro nenhum, era apenas um buraco aberto saindo o vento frio do aparelho, meu nariz suspirou triste ao sentir os ácaros prolíferos do ar. No teto tinha um ventilador com uma palheta só e uma luz amarela no meio, daquelas que gastam bastante energia e liberam bastante calor. Agora eu parecia a bandeira da Angola.
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