quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Infância fachada

As vezes eu fecho os olhos e me transporto para os lugares da minha infância. Literalmente eu viajo na maionese,viajo pelos caminhos tortuosos da massa de matiz não tão preta. Portas emperradas, mesa torta. Ando por corredores, sinto nas mãos a textura de maçanetas antigas, abro janelas marrons e dou de cara com a luz cegante. Deito em camas bagunçadas com lencóis furados. Poeira preta. Dejetos de morcegos do andar de cima. Forros aos pedaços. Banheiros com cheiro de barata. Corredores longos, escadas, jardins suspensos, quarto inacabado. Cama quebrada, quarto acabado. Escuridão. Pé de mamão macho. Tijolos quebrados. Caixa d'água. Samambaia a definhar. Casinha de cachorro. côcô. lodo. líquens. musgo. grades e azulejos quebrados. No meio do caminho pra saída: Ei, aqui existia uma casinha de boneca feita de madeira. Madeira feita de boneca. Eu era feita de madeira no meio do asfalto. Eu comia cimento.Eu queria apenas conhecer as pessoas que passavam na rua. Eu as via com listras no corpo. Minha ótica por dentro das grades.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Prece

Deus meu,
me livra desse mal
que sou eu.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Sobre mim (aquele que não conjuga verbo)

Sou a flor que tenta alcançar o céu, que vem o vento e derruba.
sou como um céu tempestuoso.
nuvens negras. raios fulminantes.
sou tantas coisas que as vezes acho que preferiria ser como os outros:"nada".
daria menos trabalho.
das vezes que sou faca afiada nos olhos, sou ouvidos, mãos grossas de afago também.
não são falsos. JURO!
soou de ouvidos abertos. megafones reversos.
palavras atrapalhadas por dicção infantil.
sou língua nos dentes quebrados.
fungo devastador.
sou mancha que gruda na roupa.
sou dor.
sou pernas de um passo,torto, só.
dos rumos que eu gostaria de guiar.
sou amor.
volto pra flor.
lá do topo, quase livre.
com medo de livre ser. nunca mais voltar.
volto em semente.
volto na esperança de germinar o sorriso.
volto com braços e pernas.eu sempre volto.
sou galhos de pernas finas e pêlos a fazer.
sou semente latente esperando pra em ti florecer.
E de galhos abertos tento alcançar o céu. seu.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Encontros lá de cima.


tão importante quanto criar raízes
é criar galhos.