domingo, 22 de novembro de 2009

Ficou por ali, meio domingando, meio choramingando, segundando umas primeiras intenções apodrecidas com o passar dos anos. E olha que foram muitos.

sábado, 21 de novembro de 2009

espelho espelho meu e pés de galinhas.

olhando no espelho, reparando bem no rosto, viu nascer uma ruga no canto esquerdo dos olhos, nas alturas das têmporas. Um pedaço de pele morta do meio da testa, feito de preocupação. Foi então que um resmungo interno saiu como um solfejo : pelo menos nem aos pés se chega aos dela de galinha.

sábado, 14 de novembro de 2009

Dá um 'chupe'?

Estava aquele sol tinindo. De suar sovacos, buços à fazer, derreter seios e regos. - Tá de lascar. Enquanto uns enxugavam suas testas, reclamavam com o sangue de jesus que tem poder, outros chupavam sacos freneticamente. Olhei pr'um lado, uma menina chupando. Olhei pr'outro, uma velha, um velho, um vendedor de pentes, uma criança catarrenta, uma pseudo-patricinha, um marginal, um vendendor de bananas fritas, uma piriguete tatuada e um cachorro. Todos chupavam. Chupavam por que era de uva, de morango, de leite, de maracujá, de cupuaçú, de cajá, de açaí, de abacate, de milho (eca!), de goiaba, que parecia ter um gostoso gosto, e tinha um que parecia de chocolate, mas me garantiram que era doce de leite. Me senti meio deslocada. Confesso que até pensei em entrar na onda da chupação, mas resisti bravamente.

Tudo isso por que não gosto de imaginar a procedência das coisas que compramos por aí. Imaginei a pessoa que preparou coçando o saco, amarrando o cabelo sujo de suor e com as unhas cheias de sujeira. Imaginei também umas gotas de suor caindo na mistura que vai pro saco e que vai pro freezer. 'Minina, o frio mata tudo'. Mentira. Existem bactérias que conseguem sobreviver mais de - 200 °c. 'Não interessa, o que importa é que alivia o calor.' Além de ser obceno uma pessoa chupando um saco gelado, é meio desconcertante pra quem não compartilha da mesma sensação de prazer, derretendo como o saco e ouvindo a parada de sucesso dos transportes coletivos. O problema todo está na democratização da tecnologia. Celulares com mp3 não deveriam ser tão acessíveis.


quinta-feira, 12 de novembro de 2009

é como uma nuvem. mas é muito melhor.

(hi)per-tense

Nada nos pertenceu, pertence ou pertencerá. Não existe ainda o documento que garante a propriedade particular humana. Ou seja, aquilo não era seu, mas estava ali em cima do balcão do quarto e a melhor desculpa, e mais rápida diga-se de passagem, que veio à cabeça foi: não sei de onde veio, mas pode ficar. Ela disse assim, com um pouco de sangue nas bochechas, rezando pra que ele aceitasse sem questionar a procedência. E assim foi. Talvez ele tivesse a certeza e nem precisasse de confirmação de que o fato de tão explícito, tácito é.

Bateu a porta, rezando que todas as pessoas que fossem cruzar a sua frente fossem feias e fedessem, para garantir total segurança, sem correr riscos. Deu uma topada na porta que embora fosse meio torta, fez foi indireitar o andar torto. O céu estava meio chateado, assim como ele, mas ainda não chorava. Não tinha mais graça aquelas placas de trânsito desde o dia que fora interceptado pela que dizia : PARE. O fez, de fato, mas com medo de acabar numa rua sem saída mas depois de perceber que a saída estava exatamente ali, naquele PARE, não teve mais medo algum. Esperou o sinal verde e simplesmente continuou andando. Achou um par de brincos e uma piranha de brilhantes diamantes, que acabou dando de presente para uma mendiga, gostosinha até, que estava sentada no banco brincando com umas sementes de paricá, recém nascidas.

Afinal, o que não é gostosinho aos olhos de quem vê em tudo e em todos aqueles que se andam e voam uma certa esperança de se dar bem na cama. Ou no sofá, ou na sala, ou no carro ou na rua, vai saber. Aquelas ruas eram sem saída mesmo. E mais calado de tampa de caixão eram os companheiros de cela. Engoliam todas as provas, mesmo que fossem concretas.Seus estômagos eram meras gastrites para o que tinham que aceitar, na verdade, eram iguais. Nao tem como se diferenciar dos seus , que na verdade não são, não foram e nunca serão pelos motivos outrora citados. Caso insatisfeito com a explicação, favor retornar mais tarde. Na verdade, verdade mesmo o botão excluir funciona.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

tinha uma cara de escorbuto

domingo, 8 de novembro de 2009

8 dias

Engraçado passear sobre a vida alheia. sempre são mais bonitos, mais felizes. a grama do quintal é mais verde. a samambaia da sala também. seus empregos são melhores, suas noites são mais bem dormidas, seus banheiros não tem vazamentos, seus sorrisos sempre cogates. seus cafés da manhã sempre vastos, seus carros sempre limpos com cheiro de perfume importado. seus celulares da moda inquebráveis cobertos de garantias de um ano. Seus cachorros não fedem, tomam banho todos os fins de semana e também não comem comida. só ração. seus quartos tem ar-condicionado e eles não passam calor. seus pais são um casal feliz, sem problemas de alcolismo, drogas, cigarros e nem de dinheiro. em suas casas reina a paz e o silêncio ensurdecedor de badulaques de madeira se chocando com o vento.

seus controles remotos são universais. Tv, Sky e Dvd. Engraçado a quantidade canais e as vezes não se consegue parar nem um minuto pra conversar sobre como foi o dia. sobre os planos, sobre as contas, sobre as conquistas das batalhas diárias, sobre as decepções com os amigos e desamigos. soma-se 60 horas semanais de amargura e apenas uns segundo de olhares cândidos à orquídea que nasceu no jardim esta manhã. some-se sorrisos esperanços com a vontade durmir e nunca mais acordar, até o dia que tudo estiver diferente. soma aí a idade, a idade dos filhos divida por três e terá vizinhos festejando na sala ao lado enquanto você come brigadeiro duro, da noite passada, lendo a coluna social e concordando que os cosméticos da Adcos podem até ser bons, mas nada é páreo para o apelo ambiental da Natura.

Concordando que chapéus de cowboys não combinam com qualquer pessoa, a não ser que seja uma vaca ou um touro. Chifres não aparecem nas linhas do jornal, mas a moça é expulsa da faculdade por usar roupa curta e os homens, filhos da puta, falsos moralistas e hipócritas se sentem em fim justiçados, quando na verdade estavam esperando na fila do banheiro para fazer uma singela homenagem à moça.

Quanta gente nojenta, quanta gente podre e eu me pergunto se faço parte disso tudo por opção ou por falta de. Penso que apenas mudar de país não vai ser suficiente para a minha evolução por que ainda existe a internet que consegue ligar mundos distantes. Penso que talvez se me mudasse pra lua, ia sentir falta dessa muvuca que é a terra e dessa putaria que chamam de socialização do conhecimento e da falta de conhecimento do que as vezes é o que importa mais: os sentimentos. Vou saber daqui a oito dias se meu leve descontrole vai cruzar o atlântico.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

difícil é ser sereno

É meio, um pouco, quase improvável, levemente impossível, meramente intacto, muito difícil, enxutamente deplorável, levemente úmido, escrupulosamente inviável, pateticamente branco, escalonavelmente sujo, paupericamente sorriso, desgraçadamente lacrimoso, amargamente jujuba, arcoiresmente preto, economicamente tortuoso, ambientalmente canibal, despretenciosamente fétido, desafinadamente mudo, mentirosamente amor, viscosamente sofá, despatenteadamente urso, filosoficamente solidão, interneticamente burro, claramente verão, publicavelmente braços, vergonhosamente podridão, compactadamente dedos dos pés, cheirosamente pescoço, tortuosamente caminho, frescamente visagem, coloridamente neve, inimitavelmente suco de soja, difícil é ser sereno em baixo da chuva.

domingo, 1 de novembro de 2009

Ai, aquele cheiro de sanipax...

Legislaine, por ironia do destino, estudava direito. Estava escrito no crachá, mas a foto era de um urso panda. Sugestível. Chegou assim do meu lado com aquele cheiro de desinfetante de banheiro. Meio ardido, meio cheiroso, meio irritante. Me afastou com um movimento brusco de ancas pedindo espaço. Afastei, claro. Posso dar descarga em você? Pensei. Perante aquela voluptuosidade toda, kilos de pelancas brancas, quase transparentes do sol que quase nunca chegou por lá, meia nádega monstruosa quase a engolir minhas canelas finas de passarinho: alguém tinha que ceder. Eu cedi. Mas foi por medo de ser esmagada, não nego. A feiura não me intimida. Já vi cada coisa que, pfftt, fichinha. O problema é que ela ao sentar, me fez ficar quase que na posição fetal, encolhida, com os braços e pernas cruzados, calculando cada movimento futuro, com medo de meus pêlos do braço encostassem na manga da blusa de algodão sintético, com desenhos geométricos. Se bem que círculos não me parecem ser geométricos. Essa palavra sempre me remete à ângulos, vértices e retas. Enfim, tinha medo de respirar, pois ao fazer, meus pulmões iam se expandir e tomar mais espaço na parte frontal do meu corpo, logo ali onde eu agarrava minha bolsa, forçando-a contra os peitos que estavam quase derretendo. Depois que comecei a ficar dormente e com falta de ar, resolvi levantar e mudar de lugar, já que a Sra. Panceps não sacou que estava cometendo quase um homicídio culposo, assim, sem perceber. Confesso que fui corajosa, mas depois fiquei com vergonha, ao relaxar, respirar e olhar pra ela com caradepeidaramaqui: "Da próxima vez, traga um banquinho do seu tamanho"