quarta-feira, 16 de setembro de 2009

cargas d'agua


Construo em meio a sobriedade e o túmulo que me é passado, entre o sono diurno e o pesadelo constante, de todas as noites, todas , todas, nenhuminha sequer deixa de ser, o sonho replay ad eternum, dos miolos e pedaços perdidos em meio a embarcação. Lembro daquela tempestade. Água, água para todos os lados. Eu, de cabeça pra baixo tentando fazer parar. A gravidade é meio difícil de lidar. Tudo cai de cima pra baixo, até naquele dia que eu estava de cabeça pra baixo. Lembro-me da cor sem nome, cores de animais e da cor que eu fiquei. Eu senti o branco, por todas as partes do meu corpo. Às vezes o branco é uma cor dolorosa. O branco dói aos olhos, meus fotofóbicos. O branco deixa vazio. É, vazio. Tentei colorir com um assovio ou uma jujuba de morango artificial. Não deu. Tentei levar as mãos pro alto e fazer parar de cair mas denovo, a gravidade, me deixou no chão. Lá me parecia legal, até abracei sem querer, de costas pra tudo, como em muitas vezes estive, meus olhos- aqueles que ficam atrás da cabeça- permaneceram fechados. Peguei uma motosserra motorola (ou era nokia? nem lembro) e abri os bichos. Já era. Ondas, curvas! Eita, boto rosa! Mas como se faz pra nadar debaixo d'agua com os olhos abertos. Me responderam uma coisa que até hoje não me esqueço: Você nunca deve fechar seus olhos, em nenhuma ocasião. Eu sei, tá certo. Mas aí, me dá um copo com água limpa, por favor. Me lembrei que a única coisa limpa que existia ali naquele lugar, se é que podia se chamar de lugar, era um troço chamado noite. Daí eu vi aquele ser, aquele corpo podre, vestido de cinismo dizendo que aquela água era limpa. Mal sabia ele que eu podia enxergar por dentro dos seus olhos, pois eram neles que guardava todas as suas mentiras. E olha, vou te contar, não eram poucas. Aceitei a água, como se fosse um aperto de mão, meio distante, meio longe do corpo. Afinal, nunca se sabe o que um copo d'agua é capaz de fazer. Na verdade eu nunca soube por que quando ele virou as costas, pra outras andanças, eu joguei aquele copo no rio que, hoje de tantas águas do mesmo tipo nele jogadas, vive poluído e cheio de lixo. Vixe, presta não!