quinta-feira, 15 de outubro de 2009

quanta sensação filha da puta
quanta sensação, filha da puta
quanta sensação.

fly

E de repente veio uma mosca. Com seus olhos imensamente menores que os meus, porém, imensamente mais eficientes que o meu. Alguns milhões de quadradinhos hexagonais me olhando como se fosse espelho. Não adiantava, já estava quebrado. Me vi em milhões de partes, cara poro da minha cara, um flash, uma piscadela mosqueana. Pude ver o quão simples se é aos mil olhos de uma mosca. É engraçado também observá-la fazendo carinho com suas próprias mãos em si mesmo. Juro que ouvi o ranger de suas células epiteliais e nervosas, como as coxas barulhentas de um garfanhoto frenético a cortejar sua dama verde. Senti um certa familiaridade naquele momento.

Nada passa batido. Ela, literamente, viu meus pensamentos, de tão rápida que é. Confesso que me senti meio diminuída à capacidade de acompanhar coisas que nem ainda aconteceram. Mas eu me sinto assim muitas vezes, não é novidade. A novidade é que ela, a mosca, me mostrou vários defeitos, outrora não vistos, ou se vistos por outros - o que de nada me vale- não me ajudaram a evoluir de forma nenhuma. A mosca, díptera, com suas duas asinhas fininhas e ao mesmo tempo poderosas, sua língua em forma de canudinho, chupou que era de uva e emitiu um som estranho. Quase um ' ahhh'. Estava calor e aposto que suas papilas gustativas buscavam um pouco de açúcar, pois as flores tinham acabado de sair por aquela porta chamada primavera, sem deixar rastros como aqueles que se vão pra sempre. Eu achei ótimo. Estava adorando aquela visão tridimensional. Engraçado que as minhas orelhas não pareciam tão grandes. em cada quadradinho estava um pedaço. Gostei da sua perspectiva, dona mosca. Ela continuou voando, voando e fazendo barulhos, que depois de ter ouvido aquele 'ahh' não me pareciam ser diferentes. Dava cabeçadas na janela e voava para mim. repetiu umas 3 vezes até que eu pudesse entender a mensagem. Ela queria ir embora e com seu 'ahh' característico me pedia ajuda. Levantei e fui até a janela, que emitia muita luz branca, quase que me cega, e gritei aos dois ventos que vinham passando por ali, por acaso: "Vai, mosca. Apesar de nem todo mundo merecer, vá, voe e seja feliz!"