quarta-feira, 30 de setembro de 2009

a-cú-mu-lo

crianças crescem sem cicatrizes/ gosto de te ver vestida de cores/ na gaveta das confissões taquei fogo, mas só por que deve doer bastante/ o adjetivo orgânico deixa qualquer substantivo mais verdadeiro/ anos novos virão/ veja lá: não confunda ipê com paricá/ vejo cegos todos os dias mas eles não me vêem/ aprendi com quantas teclas se fala de dor/ não nego que chorei ao ver aquelas árvores/ tenho funcionado à vapor. dos maus/ é horrível esperar e-mails com notícias boas/ se eu pudesse escolher, escolheria almodòvar/ quando eu voltar ainda espero me pertencer/ coisas achadas no chão as vezes me dão medo/ roubei uma flor/quando olho no espelho me vejo mais que um ser animado/ tenho medo do escuro/ cabeça não pensa o corpo padece/ i see dead people walking around and singing out loud/ definitivamente não gosto de pessoas com os olhos juntos/ preciso livrar meu quarto do passado/ plantei uma árvore no ano passado e ela não cresceu quase nada/ era lua minguante/acho engraçado sua nuca/ se tivesse mais alguns trocados, eu laRgaria tudo/ não gosto de gente corrompida/ não gosto de gente que vasa/adoraria usar vestidos todos os dias e distribuir cotocos também/ já gostei mais de fantasias/ da cronologia dos sonhos: minha mãe foi miss, minha irmã é, eu sempre quis ser, e a minha cadela que posa para as câmeras.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

cargas d'agua


Construo em meio a sobriedade e o túmulo que me é passado, entre o sono diurno e o pesadelo constante, de todas as noites, todas , todas, nenhuminha sequer deixa de ser, o sonho replay ad eternum, dos miolos e pedaços perdidos em meio a embarcação. Lembro daquela tempestade. Água, água para todos os lados. Eu, de cabeça pra baixo tentando fazer parar. A gravidade é meio difícil de lidar. Tudo cai de cima pra baixo, até naquele dia que eu estava de cabeça pra baixo. Lembro-me da cor sem nome, cores de animais e da cor que eu fiquei. Eu senti o branco, por todas as partes do meu corpo. Às vezes o branco é uma cor dolorosa. O branco dói aos olhos, meus fotofóbicos. O branco deixa vazio. É, vazio. Tentei colorir com um assovio ou uma jujuba de morango artificial. Não deu. Tentei levar as mãos pro alto e fazer parar de cair mas denovo, a gravidade, me deixou no chão. Lá me parecia legal, até abracei sem querer, de costas pra tudo, como em muitas vezes estive, meus olhos- aqueles que ficam atrás da cabeça- permaneceram fechados. Peguei uma motosserra motorola (ou era nokia? nem lembro) e abri os bichos. Já era. Ondas, curvas! Eita, boto rosa! Mas como se faz pra nadar debaixo d'agua com os olhos abertos. Me responderam uma coisa que até hoje não me esqueço: Você nunca deve fechar seus olhos, em nenhuma ocasião. Eu sei, tá certo. Mas aí, me dá um copo com água limpa, por favor. Me lembrei que a única coisa limpa que existia ali naquele lugar, se é que podia se chamar de lugar, era um troço chamado noite. Daí eu vi aquele ser, aquele corpo podre, vestido de cinismo dizendo que aquela água era limpa. Mal sabia ele que eu podia enxergar por dentro dos seus olhos, pois eram neles que guardava todas as suas mentiras. E olha, vou te contar, não eram poucas. Aceitei a água, como se fosse um aperto de mão, meio distante, meio longe do corpo. Afinal, nunca se sabe o que um copo d'agua é capaz de fazer. Na verdade eu nunca soube por que quando ele virou as costas, pra outras andanças, eu joguei aquele copo no rio que, hoje de tantas águas do mesmo tipo nele jogadas, vive poluído e cheio de lixo. Vixe, presta não!

segunda-feira, 7 de setembro de 2009


pelo tédio tedioso, vamos tomar um sorvete de baunilha, que combina com teu gosto e pegar a sessão das 5.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Rascunhos molhados hum

Bob Esponja e Patrick e o design arrojado do hotel manauara

O Rio Purus, de suas águas caudalosas, toldadas, imenso por extensão, pertencente, juntamente, aos companheiros de bacia no amazonas, margens ora praias desertas ora nem tanto, imensas idem mas nem tanto, ora insustentáveis florestas de embaúbas, vezes precedidas de lagos, meandros abandonados, braços aleijados do rio, vezes com cacoais centenários e esquecidos como a maioria dos centenários, lembrados apenas centenas de anos depois, onde seus inimigos naturais se chamam motosserra e homem - não necessariamente nessa mesma ordem - insistem em viver de seus trancos e barrancos de areia abrigando e gerando mais vida que o próprio mundo. Este é casa, comida e roupa lavada do relato que segue de mais uma viagem minha, tendo como único e exclusivo objetivo o registro memográfico e fotográfico do dia-a-dia e das experiências vividas e vistas, visto que, embaçado e míope, minha memória é fraca e falha nos altos e baixos dos 22 que aqui vos falam. Um semanário vezes molhado, vezes sujo de dias fluviais e de pensamentos passageiros. Só, só, somente só.

Do mundo que cabe em uma só boca



Acho que sou a única pessoa que consegue dormir em qualquer circunstância. 4 horas com buracos maiores que eu, não foram nada para meu sono. A cidade continua a mesma, mas desta vez mudamos de hotel. Fiquei muito feliz em saber que não irei dormir com ácaros paleocênicos. Houve uma pane na cidade. Não tem água e nem energia na maioria dos estabelecimentos. Ainda bem que o hotel escolhido possui ar condicionado novo, lençóis limpos, banheiro mais ou menos. Energia é de vez em quando. Com certeza muito melhor do que eu esperava para essa estadia. Tem um telefone público que só funciona se tiver a sorte de um satélite estar passeando aqui por perto. Apesar de apenas 125 km, mais ou menos, o eco da minha voz parecia estar vindo do Japão. Nessas horas que eu ouço o quanto minha voz é desafinada. Achei graça ao desligar.

- Oi, cheguei bem. Aqui não tem água e nem luz, não pega telefone celular e não chove. Beijos e te amos.

Depois de resolvermos as coisas pra viagem - gasolina, comida, água – tomei um todinho e comi um passatempo assistindo o único canal que passa na TV. Se tem coisa que eu mais odeio do que novela em que os atores falam com o sotaque caipira forçadíssimo, é novela em que os atores falam com o sotaque caipira. Coloquei no mudo e fiquei vendo as imagens só. Que coisa boa é o silêncio de um ar-condicionado.

Eu estive com medo, mas passou. A força do pensamento é uma coisa muito louca. Hoje foi o meu primeiro dia com 22 anos. E daí? E daí nada. Só pra registrar mesmo. Encontrei um cachorro na rua magricela, com as costelas ímpares. Ele tinha cara de me dá um carinho e eu fiquei com vontade de chorar. O meu quarto tem paredes vermelhas, uma lâmpada amarela e um quadro em que o Bob Esponja e o Patrick correm felizes e saltitantes. O design interior do hotel uma coisa de louco. É claro que é uma piada. Dormi que nem criança.



Ontem a noite, depois de partimos as 16h de Boca do Acre, atracamos em uma das muitas praias que existem ao longo do rio. 3h de viagem e lá estava a lua, tomando seu lugar, no lugar do sol, enorme e clara que não precisei de lanterna, nem choro e nem vela. A noite estava fresca e o melhor de tudo: sem carapanã. Pena ou não, isso é só o começo. Histórias macabras de peixes assassinos e cobras, mas o piranambu – Urubú d’água – foi o protagonista da noite.

“- Teve uma vez que eu estava descendo o rio e mandaram me chamar da beira do barranco. Um homem estava desaparecido há três dias e precisavam de ajuda. Caçei ele pelo rio, rebolei, procurei até que achei. Puxei um troço da água. Era ele e estava inteiro. Só os ossos, sem carne nem pele e 4 ou 5 piranambus agarrados nos restos de fígado que haviam sobrado. Eita bicho imundo!Come de tudo. Não é à toa o apelido”. Dizia Seu Roberto, o comandante do barco.



Toque de recolher. Entrei no meu amontoado de redes para dormir o sono dos justos. Uma coisa legal é que o barco tem tipo um trapiche na traseira que dá pra tomar banho tranqüilo. Foi ótimo poder tomar banho de verdade. Antes de dormir, estava eu tomando banho de lua e de água, quando vejo derrepente uma voadeira e uma lanterna focada em mim: “vrruuuummmm Ihhhhhhhhhhhhhhhh!!!! vruuuuuuuuuuuummm” Eu não tinha pra onde correr. Poderia ter mergulhado no rio e ser devoradas por jacarés, cobras ou sair correndo pela praia e ser atingida por um esporão de arraia. Não fiz nada. Empinei meu nariz (mais do que ele já é empinado) e continuei o meu ritual.

Às vezes, muitas vezes, tenho nojo de homens.

(...)

queria úum