sábado, 20 de dezembro de 2008

Sina

Era assim: sentada no banco de madeira desconfortável, sentia um vento que não conseguia explicar de onde vinha. a temperatura era amena. os raios solares chegavam às helicônias numa angulação que as deixavam com sombra no chão. tudo ao redor tinha cor de clorofila e marrom madeira. até o chão que tentava se desfarçar por desenhos, labirintos e mosaicos tinha tons já de antes conhecidos. Ao levantar o olhar podia se enxergar (a si mesmo) por entre as árvores, construções antigas, com traços e linhas vanguardistas. é, aqui já foi vanguardista na época de vanguarda. eu não cheguei a viver tal época mas estive em fotografias bem como muitos que conheço. Na época que eu era um incômodo, entre aspas, por não conseguir ficar sozinha, pessoas jogavam cartas como esporte. Uniam-se, conversava-se sobre política, sobre tendências esquerdistas, sobre como o mundo seria bom em 1999. Era um número bom, diziam eles: -Coisas boas, quando são repetidas, são melhores. E entre jogos, não de aposta, espumantes e cigarros, noites e dias iam e vinham enquanto alguém esperavam alguns em casa.
Por aquele chão, que agora é coberto por roupa nova, passou muita coisa. Passeatas, campanhas, manifestações, procissões, carnavais, setes de setembro, religiões, macumbas, cirandas, teatros, cordéis, poetas e poetisas, músicos e suas músicas. E como um flash, que veio com aquele vento e com o trabalhador que se diz cuidar de carros, voltei pra realidade ao som de um sino alto, agudo -potente até- que, diferente do que pensava ser: apenas uma reverberação, foi tocado durante quase 15 minutos. Nestes que me vi, com lágrima singular, sorrindo ao ver aqueles que me deram vida nova aos 20 anos. Ambos com uma pequena vida de mãos dadas firmemente ao subir a escada. Foi a primeira vez que ouvi o sino da catedral tocar.