quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Não seu.

eu perco por perto mesmo longe de mim
eu sinto que peço apenas um pedaço de sim
que eu velo que choro que curto que rezo
me perco por perto de partes complexas de si

eu juro que vivo que vim vivi vi e venci
não juro que nego que ao olhar pro lado teu calor eu vi
não finjo não sinto apenas para muito fazer e pouco sentir
eu perco por perto de partes complexas de mim

é como acordar e se rir
é como o tempo voando sem fim
é comungar e te ver
é como o 'A' que eu fazia pra você


me fujo me sumo me uso me escondo de ti
por portas janelas muros e sorrisos e afins
de frente de costas surda e muda ouvi
sem olhos sem corpo e sem coração decidi

que é como uivar e sentir
o vento claro da lua que vi
é como nascer e ver
o mundo com outros olhos
o meu mundo sem você.

é como lembrar e fingir
que era apenas um sonho e
voltar a durmir
é como te ver e não te querer
ouvir a voz dizendo se arrepender

e o espelho apenas sorri.

Chavão de quarta

só sobraram as cinzas vermelhas.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

tanto faz
sem voz é melhor
ouvir com os olhos
ou mesmo pensar
só em silêncio eu
te enxergo no escuro.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

ele se foi e eu nem tive oportunidade de me despedir.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

só lembro que choveu.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

De boca em boca: à boca.

Depois de muito ir e voltar, fugir pra as terras distantes que alguém descobriu, voltar para as terras que quase ninguém sabe de quem, passar por chãos quase sem fim, onde o olhar se perde por entre o chão desnudo que deixa marca onde toca e, se tiver sorte ainda, consegue-se chegar ao destino se não for época de água ou inverno como dizem por aqui. Mesmo sabendo que não existem estações definidas por essas bandas a não ser a estação de ônibus de milha em milha, barro em barro, pedra em pedra, pasto em pasto: Voltou. Como se nunca tivesse ido pra onde nunca queria ter voltado, pelo desejo de nunca dali sair. Com medo de encarar o próprio mundo, danou-se a encarar o dos outros. Vinha com uma mala velha verde musgo e um calendário onde marcava quantos dias estava longe dos seus. Falava mais que a boca que tinha e de todos que a rodeavam, inclusive sobre os mesmos. Vinha contando com sorrisos os cantos, trancos e barrancos passados.

A cunhada era casada com um traficante que estava preso na delegacia. A delegacia, por sua vez, parecia um clube. Todo fim de semana tinha churrasco e cachaça pros presos. Algemas? Não precisava. Vezes quando eram liberados de suas sentenças, tratavam de cometer outro crime para voltar pra lá. Sem mentira, era um local muito desejado. Ao lado do bar mais badalado da cidadela, onde vendia a melhor cachaça da região vinda pelas balsas dentro de barris, tinha um policial que assaltava os traficantes, vendia e consumia junto com os companheiros da cadeia. Criou-se uma relação de irmandade. Coisa bonita de se ver, dizia ela.

Certa vez, a cunhada que não era muito chegada à banho como muitos dali, perfumou-se, pintou-se, colocou a saia mais curta e seguiu para a visita, que nem precisava ser privativa pois não haviam restrições : - Achei estranho. O Delegado estava para a capital e quem estava no posto era a esposa dele. Professora de geografia. Estorquia qualquer crime por qualquer nota de cinquenta. Liberava os ladrões de galinha aos fins de semana para garantir o jantar. Dirigia a caminhonete da polícia para ir arrumar o cabelo no salão.

- Vim trazer comida pro meu marido, disse ela. E essa criança? É filha. Loira, com esses olhos? São do avô. Venha cá , deixe eu te revistar. De cócoras. É preciso mesmo passar por esse constrangimento na frente da criança? Você tem R$ 100? Não, tenho umas trouxinhas aqui. Colombia? Bolívia. Vou ter que te prender. Na minha cidade não entra esse tipo de coisa não. Mas dona delegada eu não posso ser presa, tenho minha filha pra criar, não há quem cuide. O que você acha daqui, menina? Gosto da cor da parede, dona delegada. Certo, já que gostou, não vai ter problemas em vai ficar na cela com a sua mãe. E assim ficou por lá, durante quatro meses até que voltassem as aulas da menina. A mãe foi liberada também. Vendia roupas e sapatos roubados na feira com o marido, que vivia saindo à cidade pra comprar cachaça e galinha pro churrasco do feriado próximo.

Caboco é bicho imundo, dizia. Não tomam banho e olha que vivem na beira do rio. É pura imundice mesmo. Em uma conversa com vizinhas e comadres, foi surpreendida com um comentário infeliz de uma mulher idem: No Acre só tem galinha. Como é que é a história? É isso mesmo. Os homens que vem de lá dizem que são galinhas e ao chegar em um restaurante pedem acreanas caipiras. Isso é coisa de rondoniense, maninha, que morrem de inveja das acreanas que são mulheres bonitas, cobiçadas e sabem fazer o negócio direito. E você com essa cara de macaco misturado com cruz credo vem falar das acreanas? Prefiro ser galinha que toma banho até no seco do que ser uma porca gorda, fedida e suja como do seu tipo.

Rabissacou e seguiu seu rumo. Deu a mão e: Dá uma carona? Claro, tô indo pra Rio Branco e você? De volta a terra que nunca desejara ter saido, pelo mesmo motivo de não ter que um dia hesitar em voltar.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Eu rio, tu ris.

Legal deve ser tomar banho no rio e ver o céu passar depressa. Mas como dizem que o azul do céu é reflexo da água, meu céu deveria ser marrom e as estrelas não teriam o brilho que têm em noites de céu sem luz. Por que em noites como essas fica difícil de se ver além. O brilho dos olhos de alguém pode dar medo se não se souber que não se faz por gosto. Simplesmente o é. Se não conhecece o rio acre de nome, tomaria banho nele. É um rio bonito apesar de ser feio. Quando cheio, como agora, parece um caldo de cana ou suco de cerveja. Onde botos e peixes feios nadam na esperança de não serem servidos na próxima sexta feira santa. Todo santo dia ele se renova. o rio. Legal deve ser poder banhar-se sem medo em suas águas, sem imaginar de onde saiu e por onde passou. Por que assim como o rio passa e arrasta pedaços pelos caminhos passados, pessoas também o fazem. Levam pedaços seus sem que se dê conta. Vezes fazem bom uso de si, vezes guardam na gaveta do armário onde ficam as coisas que não devem ser queridas. Acho injusto jogar no rio ou no mato. Ambos são tão preciosos. É tudo tão simples e descartável ao mesmo tempo que é odiável. O rio daqui não acaba no mar. Pedaços meus por aí, eu não sei aonde um dia vou poder encontrar. Talvez disputando alguma árvore da margem ou empregnada em peles manchadas do sol do céu marrom.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

quero a sorte de um amor de fotografia.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

é

foice. como se nunca tivesse voltado. força na forca. ondas da voz não te perturbarão mais. me diz que foi-se mas nunca quiz ter ido. e meu abraço continua aberto e vazio.

Verde musgo.

Tenho nojinho de gente que é sempre feliz demais. A Alegria do algodão doce além do horizonte passando em baixo do arco-íris é doce demais pra mim. Tenho andado amarga. Maldade guardada na gaveta. Suco gástrico na escova de dentes. Sanguessuga na pele. Pulso. Repulsa.

Constrói-se dicionário de impropérios. Aceita-se doações.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Só chove em mim.

Impressão minha ou essa nuvem só está sob a minha cabeça?

De Sang'real

Eu olhava, analisava os traços, procurava semelhanças. O formato do rosto era todo do pai. redondo. presidende. português. sem barba. O nariz afilado, pequeno, singelo. Olhei mais, olhei, passeei por todos os pontos do rosto tentando achar, sombrancelhas, boca. Tudo era muito vago. Quando desisti de encontrar, em uma súbita mudança de ângulo: as orelhas são as mesmas.