sexta-feira, 6 de março de 2009

Fotossíntese Infantil

O povo brasileiro, como todos sabemos, é de uma riqueza de misturas de povos, genes e características que, todas juntas em uma só, são únicas. Vai me dizer que um africano não gostaria de ter o privilégio da carga genética brasileira. Talvez ele nem tenha noção da magnitude da palavra, ou nem saiba o que significa a palavra riqueza e muito menos genética. Mas se eu fosse de outra etnia, com certeza teria inveja. Inveja das boas, claro.

O acreano, povo particular, muitas vezes me intriga. Mas me intriga muito. Quem conhece um pouco da história sabe que muitos dos genes que aqui habitam dentro das células desses acreanistas, são provenientes dos agrestes de sol e mar, daquela imensidão seca ou apenas aquele deserto de areia nordestino do Brasil, por que o nordeste do Canadá, por exemplo, nada tem a ver com o brasileiro. Muitos dos nordestinos têm descendência européia. Espanhóis, Alemães, e até árabes, sempre digo. E nas aulas de história e geografia que conseguiam chamar minha atenção, diziam também. Vindos em busca do novo mundo, das riquezas brasileras, das nossas florestas, do ouro e tudo mais, passaram pelos portos da costa do Brasil, adentrando-se no mundo desconhecido e disseminando suas mazelas e maravilhas. Aquela cabeça achatada, narizes e orelhas meio assimétricos com certeza são variações mal sucedidas do povo do narigão (árabe). Assim como esse sotaque tão interessante que com certeza deve ter raízes além da nossa língua morta, que continua a se mutar. Há gente que fala um dialeto próprio, cujos verbetes nem sonham em se encontrar em aurélios da vida.

Eu acho uma coisa de louco identificar características de tão longe em pessoas daqui. Estava eu, em toda a minha paciência que tenho, esperando um ônibus que me leva até em casa, lendo o novo livro que comecei a ler hoje mesmo. Abro parêntesis: quando começo a ler um livro novo, fico que nem criança com brinquedo novo, aliás, como tudo que é novo, tenho essa vontade de ter até o fim, até cansar, até a coluna doer mais que o suportável, até os meus olhos começarem a se dilatar e pular pra fora. Eu conheço pessoas que têm os olhos saltados para fora. Feliz seria o Brasil se fosse de cultura lida pelos mesmos. Sou adepta à, há muito tempo derrubada, Teoria de Lamarck, ou a do uso e desuso. Fecho parêntesis.

Ao meu lado, uma senhora morena, morena normal, morena das cores que encontramos por aqui. Diferente do negro do Zimbábue, ou do moreno dourado dos indianos. Aqui os indígenas que deram a cor do tom moreno junto aos nordestinos. Lembrando que nordestino não é povo e nem etinia. Não falo com tom depreciativo, mesmo porque, sou fruto dessa mistura e até me orgulho dessa exoticidade. Longe de mim o xenofobismo interpopulacional. Eu nem sei se isso existe mesmo.

Era morena, normal, com uma criança morena idem com uma peculiaridade muito comum por essas bandas: os cabelos loiros. Não consigo entender de onde vêm essas características que com o passar do tempo somem no tempo. Se fosse pela lei dos caracteres adquiridos, primórdios das experiências de Darwin, a explicação seria muito simples: sua genitora, gostava muito de é o tchan e de suas sheilas, particularmente a loira, que pintou seus cabelos de loiro e esses cabelos passaram para a sua filha. simples assim. Mas não. Se existem estudos sobre esse tipo de variação fenotípica peculiar nas crianças eu não sei. O que eu sei é que crianças não são como folhas, como plantas que nascem de uma forma e depois se transformam em outra totalmente ou não diferente do que eram. Aliás, é uma característica inerente do ser humano que seus filhos, descendentes, seja uma cópia idêntica de si mesmo daqui a alguns anos, só que em miniatura. Os tais hominídios da ciência dos séculos passados. Voltando aos cabelos. As folhas de algumas plantas nascem de cores diferentes, dependendo do tipo de função que ela tem, com certos pigmentos diferentes da clorofila, dependendo da planta. Sim plantas de espécies diferentes possuem características diferentes entre si. E o homo sapiens? Mesma espécie e variações tão grandes de indivíduo para indivíduo. Claro, tudo produto do meio e do ambiente. Não do meio ambiente pois ambos são sinônimos. chega de redundância.


O que faz uma criança que não tem tendência nenhuma aos cabelos loiros (naturais) tê-los quando criança? Sou adepta à teoria da Fotossíntese infantil. Parêntesis: Essa teoria eu inventei sem nenhum argumento cientificamente comprovado, apenas por observações minhas, tenho dito. Fecho parêntesis. Não é doença. É uma adaptação das crianças que vivem num ambiente não muito saudável, com condições não tão adequadas para o bom desenvolvimento, alimentação deficiente, higiene duvidosa e excesso de luz na pele. Sintomas de problemas hepáticos? Cor esverdeada nos olhos e na pele. Clorofila. Cabelos loiros? Xantofila. Pigmentos fotossintetizantes usados pelas plantas para obter alimento a partir de gás carbônico e luz. Pigmentos usados por crianças acreanas para complementação nutricional, uma forma de seleção natural para a sobrevivência das mesmas em condições inapropriadas em um Acre tão rico em diversidade e desigualdade.

fotos por Talita Oliveira