sábado, 14 de novembro de 2009

Dá um 'chupe'?

Estava aquele sol tinindo. De suar sovacos, buços à fazer, derreter seios e regos. - Tá de lascar. Enquanto uns enxugavam suas testas, reclamavam com o sangue de jesus que tem poder, outros chupavam sacos freneticamente. Olhei pr'um lado, uma menina chupando. Olhei pr'outro, uma velha, um velho, um vendedor de pentes, uma criança catarrenta, uma pseudo-patricinha, um marginal, um vendendor de bananas fritas, uma piriguete tatuada e um cachorro. Todos chupavam. Chupavam por que era de uva, de morango, de leite, de maracujá, de cupuaçú, de cajá, de açaí, de abacate, de milho (eca!), de goiaba, que parecia ter um gostoso gosto, e tinha um que parecia de chocolate, mas me garantiram que era doce de leite. Me senti meio deslocada. Confesso que até pensei em entrar na onda da chupação, mas resisti bravamente.

Tudo isso por que não gosto de imaginar a procedência das coisas que compramos por aí. Imaginei a pessoa que preparou coçando o saco, amarrando o cabelo sujo de suor e com as unhas cheias de sujeira. Imaginei também umas gotas de suor caindo na mistura que vai pro saco e que vai pro freezer. 'Minina, o frio mata tudo'. Mentira. Existem bactérias que conseguem sobreviver mais de - 200 °c. 'Não interessa, o que importa é que alivia o calor.' Além de ser obceno uma pessoa chupando um saco gelado, é meio desconcertante pra quem não compartilha da mesma sensação de prazer, derretendo como o saco e ouvindo a parada de sucesso dos transportes coletivos. O problema todo está na democratização da tecnologia. Celulares com mp3 não deveriam ser tão acessíveis.