quarta-feira, 22 de julho de 2009

título à definir.

Se estava tocando música clássica, provavelmente era beethoven. Mas por causa daquela nota tão previsível depois do lá sustenido menor, não era. Assim como os acordes, ele era imprevisível. Ou o fato de tanto ser previsível na sua impresivibilidade, que eu sabia que não era ele. úúúúúúúhhhhffffffffffff (onomatopéia de vento frio). Estavam de mãos dadas. Delicadas e macias, diferente dos seus pés. Mentira, não tinham pés. Metáforas. A cada esfregada - da crista do cavalo - elas vinha correndo pegando impulso e se jogavam pra frente em pliês de tutus, filós, pas de bourrée, manèges e petit a petit se espatifavam no ar. Iam e vinham numa dança frenética, intensa e por incrível que pareça, sincronizada. Mas agora espera, preciso contar a história desde o começo.

Seriam milhares, muitas, multidões, se fossem pessoas e não matéria. E como em todos os lugares onde muitas pessoas existem e coexistem, existem também conflitos, deformações, confusões e desentendimentos. Fatos também da matéria. Aos montes, algumas gostavam de molhar, abafar, cozinhar, irrigar, irritar, outras de inundar e outras apenas de umidificar. de frescar mesmo.

- Vim da frança. Eu do Camboja. Eu da Malásia. Rússia. Noruega. Cazaquistão. Oceania. Marrocos. Espanha. Canadá. México. Ilhas Malvinas. Austrália. Índia. Alemanha. Bruxelas. Argentina. Uganda. Estados Unidos. (Uhhhm, ácida tssssssssss ) e eu do Acre.
- AAAAAcre? -todas em um coro só. (queria muito poder reproduzir aqui esse som. quem sabe um dia eu compre um gravador mental ou sintetize os sons que saem da minha cabeça ao presenciar essa cena sonora tão singular. Plural. desculpe moças.)- Que país é esse?
- Fica no Brasil.
- Ahhhhh, Brasil. Então você é das boas. Vem da amazônia, ares e seres puros por lá.

Não entendiam muito de geografia mas eram bem voláteis e conversavam, discutiam, se conheciam apenas por conhecer. Como se não houvesse aquele tal de amanhã. Talvez nunca mais se encontrariam denovo, só se fosse no próximo ciclo biogeoquímico. Não tinham tempo à perder visitando e elaborando propágulos internos que explodiam alfinetes. As vezes, pareciam ser uma só olhando de longe e de perto também. As vezes se irritavam com isso. Não gostavam de ser consideradas seguidoras, vão com as outras, discípulas. Não, não. Cada uma pensava, fazia, falava de um jeito. Um jeito só. que por sinal, era igualmente sem personalidade. As chinesas que eram piores, coitadas. Não tinha como lutar contra sua natureza estrutural. - Lá vem elas.

- No próximo ciclo, quero morar nas rochas. Arrancar pedaços e virar mineral. Perceberam como o sobrenome mineral tem um status nos dias de hoje? Se eu der sorte, vou pra dentro de uma garrafa linda, com um rótulo lindo, pra dentro de uma boca linda...imagina eu me mandando pra dentro do Jude Law? - Ah, ai ai Harebaba, falou a indiana.

Tinha uma que sempre se destacava, e nem sempre era por bem, no meio das outras. Afinal, sempre tem um que quer ser o importante no mundo vivo e não poderia ser diferente na matéria. Sempre tem aquela que tem características megalomaníacas e psicopatas. Não deixava de ser. Era muito comuns suicídios naquelas bandas. Eram corajosas por que tinham certeza que nem a lei e nem o deus que as regiam, ia puni-las privando de um retorno triunfal num próximo ciclo. Se pudessem assim se assumir, mandariam encomendar purpurinas e pelúcias pomposas. Se jogavam mesmo, sem dor, dó e nem piedade. As vezes com alguns fluidos incolores, como eram. Quando ficavam tristes assim, simplesmente se desestruturavam. Perdiam partículas elétricas agregadoras de íons de sulfato e nitrogênio para virar simplesmente uma fórmula química monossilábicacápsuladupla. Só. Via-se de longe a tristeza. Tem muitas vezes por aqui, mas é por que são muitas vezes mesmo, antonimamente e diferente de sempre, não há outro sinônimo cabível no contexto.

-Incolor? E você que é insípida!

Houve um silêncio geneneralizado e azul. Esclareço: não há pior xingamento no mundo, em todos os mundos, de todos os adjetivos desagradáveis possíveis, impossíveis e imagináveis do que o trio ternura do desgosto, literalmente: Insípida, Incolor e Inodora. Era o fim. De repente se via suicídios coletivos, vácuos a baixo. ( eu disse que era muito comum). As que conseguiam seguir em frente, esperavam apenas mais um vendaval para se espatifar num vão sem fim que é o infinito e afogar suas mágoas. afogar. águas. Tinha ala das mal bebidas, desquitadas, deshidrogenizadas, das sujas, das coloridas e das mal cheirosas. Era um vasto catálogo, quase um pasto. Algumas cheiravam pó e seus narizes tinham cicatrizes horriveis, cujos lenços de papel eram acusados de terem influenciado gripes. (era mentira. nem tinham narizes.) Incompatibilidade de neurônios. Dos últimos que sobraram. Sinapticamente falando, coisa de química mesmo. Vai saber.

(...)