segunda-feira, 28 de março de 2016

Um distrito que me dói menos #1

Não fosse a secura de meus olhos,  teria sido roubada de toda a umidade possível
Nos lugares e avenidas, rápidas e cinzas, brotam plantas resistentes, adaptadas e ousadas
Cada quadra, cada par de números me deixa perdida
Como pode estar aqui e não estar mais?
Resignificar cada bloco e cada lance de escada
É olhar a cidade com um pedaço a menos ,pois tudo que eu conheço costumava vir em pares
Costumava ter, costumava ser
Costumava ir e voltar aos dominigos: o dia oficial do até logo
E o até logo passou a ser cada vez mais até e menos logo,
Logo então, tornou-se um espaço vazio sem cor, apático e flutuante com cheiro de outras
Flores, incensos e água sanitária
Por que sim, a tristeza flutua antes de grudar nas paredes
E o que era par, se dividiu e multiplicou em outras direções
Em outras dimensões ainda ficam, e ficarão por muito tempo
Por que o tempo é relativo, é médico e trabalha, também, no departamento de fármacos
Pode trabalhar no posto de gasolina, nas companhias aéreas e nos laboratórios de fotografia
Onde trabalha o seu tempo?
O meu tempo trabalha em um distrito que me dói menos.



Nenhum comentário: