quarta-feira, 7 de março de 2012

Pode ouvir o cabeludo

O ano era antes, muito antes, de suas filhas nascerem. As fotos ainda eram em preto e branco e lugar de mulher ainda era na cozinha. Sempre gostou de música mas em sua casa haviam restrições sérias. Só entrava Luiz Gonzaga. Seu pai, marceneiro, carpinteiro, artesão de móveis em madeira tinha a cabeça, a sola dos pés, algumas concavidades nas mãos e também era uma pessoa chata. Ele gostava de Roberto Carlos. Depois da escola ouvia com os amigos através de um radinho à pilha as canções dançantes e cantavam para as garotas que passeavam na praça de trança.

- Na minha casa não entra música de cabeludo.

Naquela época o Rei era apenas príncipe. Se usasse trança já seria outra história.

- Mas painho, a música é boa.

- Não, nada disso, na minha casa não entra música de cabeludo.

Certo dia, após uma grande tragédia que acometeu o Recife, estado vizinho, Roberto Carlos fez um show beneficente para arrecadar fundos a fim de ajudar as vítimas da enchente. Ele queria ir, seu pai não deixou mas por fim disse: - É, esse cabeludo é boa gente. Pode ouvir o 'cabiludo'.

2 comentários:

Francisca disse...

Já o meu irmão só houve músicas de cabeludos; mas o Rei não entraria em sua casa, pois não tem tatuagem. Ronie Von talvez, se fossa aquela época. O que mudou, enfim? E o lugar de mulher, é onde??

Kaline Rossi disse...

O que mudou é que não existe só mais um lugar de mulher. O espaço dela, nosso, é o mundo todo.

E o Rei não tem tatuagem mas tem uma perna de pau (que é muito mais legal)