segunda-feira, 13 de abril de 2009

Móveis

dóem os olhos ao ver. dói também um pouco mais em baixo. chocolate mal comido. papel higiênico sujo, não limpo, fétido e encardido por orifícios que há de haver um dia alguém capaz de contar quantos. mas ninguém conta, ninguém viu. é tudo na surdina da berlinda da casa adjascente. Geme baixo, porra, podem nos ouvir. Não me importo, a quem deves? muro baixo, portão frouxo, cópia de chave. cães, galinhas, gatos talvez. gatos são bichos imundos. testemunhos. Combinam até, dizia. esquivos. corninha. a corja vibra. a torcida organizada estremece. paquitas lamentam serem meras coadjuvantes. talvez não: Deus tem planos para mim, eu sei que hão de vir - suspirava ares condicionados. cabelos, nús em pêlos, esticados. há vida lá fora, coquinha, ah se há.


Pegou a estrada. Disse que apenas seguiria as linhas amarelas. claro, mentira. tinha destino certo. certamente não falou nem mesmo pra si onde iria, para não sentir remorso. esse já era seu amigo de fé e irmão camarada, carne de ungulado, sangue de rato. pegou um caderninho. números de telefones. discou o de sempre. claro que não iria deixar anotado na agenda do celular. pseudônimo. Oi, chove e quero abrigo. lama, sapos e maçaneta. Toma, uma toalha. Procuro a vida lá fora, desabafou. Você e essa sua busca incessante. Eu sei, eu sei, que você não cansa, vai ser assim até o fim, do jeito que teus, ou quase teus, foram, talvez melhor, afinal, adaptabilidade é a palavra do momento. é portabilidade, vagabunda. é, também.

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