o céu não é grande. grande sou eu.
quarta-feira, 30 de junho de 2010
quarta-feira, 23 de junho de 2010
Depois tudo vira uva.
Postado por Kaline Rossi às 06:05 0 comentários
domingo, 13 de junho de 2010
Do vazio de luz
na beleza melosa de tecas tristonhas, vejo o chão, abaixo e ao mesmo tempo, dentro de todos. pedaços secos de vidas vazias de luz.
no vento ensolarado das ruas, vejo cérebros, acima e ao mesmo tempo, dentro de alguns. pedaços murchos de vidas vazias de luz.
Postado por Kaline Rossi às 09:00 2 comentários
Marcadores: poe
sexta-feira, 11 de junho de 2010
Postado por Kaline Rossi às 19:28 0 comentários
quinta-feira, 10 de junho de 2010
O problema de ter um ídolo é você querer ser que nem ele. E nem sempre escolhemos bons ídolos para ser. Nunca fale em voz alta sobre.
Postado por Kaline Rossi às 09:24 0 comentários
quarta-feira, 2 de junho de 2010
Da aleatoriedade e do destino se faz uma grande e insignificante tragédia pessoal
Logo na saída, aquele veículo automotor que nos conduziria ao nosso tão desejado lar, doce, limpo, lar, deu sinal de que não estava muito bem aquela manhã. Tossiu, reclamou, rangeu engrenagens, faltou bater o pé no chão e dizer: Não vou. O motorista, trocou 6 por 1/2. E nós tivemos que trocar de carro. Cada um com suas coisas nas costas, nas mãos e nos braços, procurou se acomodar da melhor maneira possível, mesmo que isso não seja algo tão literal.
A poltrona era de couro. Daqueles que ninguém nunca, nunca, mas nunca limpa na vida. Foi cinza na juventude, hoje tinha cor de café com leite. Mais café que leite. Tentei tirar da minha cabeça a idéia de cabeças, braços e pernas suadas e seus vestígios enquanto eu sentava ali, sem a oportunidade de reclamar, pois para quem tem pouco dinheiro e falha na hora de fazer orçamentos, eu não tinha alternativa mais barata que essa. Barato, que saiu caro, diga-se de passagem interestadual. Procurei também não reparar que o lugar de se colocar bagagem de mão, acima de nossas cabeças estava sendo equilibrado por algumas barras de ferro, pensas, tortas, desajustadas e havia um rombo, isso mesmo, um rombo no teto que dava pra ver o céu. E não não me refiro à janela de ventilação.
Havia uma criança a escorrer catarros, uma senhora de saia florida, um rapaz com uma calça jeans justa e um cinto com fivela de cavalo, um homem sujo de graxa, com cara de mecânico, uma moça que fingia ler uma apostila xerocada, outra criança pra lá e pra cá no minúsculo espaço entre as cadeiras, uma mulher com peitos a saltar da blusa, havia um nariz, um bigode, e por tras dele, um homem. Todos tinham os sovacos suados.
Eram máquinas, tratores, homens sujos, suados e homens dentro de cabines com ar -condicionado. Todos a atrapalhar o trânsito de pessoas que esperavam ansiosamente o fim de uma obra de dez anos que iria transformar 220 km de barro (e todos os estados físicos da matéria), buracos, ondulações, crateras e aventuras em 2 horas de viagem linear, quase inaudível, talvez agradável. Já esteve mais longe, diziam. É, concordei, já esteve.
Alguns quilômetros depois de constatações saudosas, revoltadas, percepções alheias ao clima, o formato da copa das árvores que insistiam em existir no vasto campo dominado por eles, os donos do pedaço, bois, nada sagrados e por muitos odiados ou desejados, algumas unhas e cutículas pestiscadas, algumas, na verdade três tosses profundas, um pastel de carne, alguns goles de água- poucos por que do jeito que as coisas iam, eu morreria com a bexiga na cara, mas não chegaríamos à um banheiro antes de uma tragédia molhada- alguns choros sem graça, como todos os choros infantis costumam ser, algumas conversas inocentemente ouvidas sobre como o trabalho anda difícil, as coisas caras, confissões de mulheres infiéis que não suportavam ter que engolir suas mentiras e nem de seus companheiros, que ainda mesmo, ao voltar para casa depois de um dia todo de trabalho, não importando qual tipo de trabalho tenha sido, os recebiam, eles os companheiros homens, com aquele sorriso, muitos sem dentes, mas com cáries, ah sim, cáries, e tinham um prato de arroz com farinha e um pingado de peixe. E um pouco de amor, claro, por que é isso que as mulheres fazem: perdoam. O ônibus dá uma parada brusca. O sol, à pinotes no céu, bombando raios solares e vento que é bom, nada. O motorista, desce, demora um pouco, sobe e diz: "É, agora lascou-se". A felicidade se espalhou junto com uma carrada de poeira levantada por um taxista que passou exatamente nessa mesma hora " lascou-se".
- A barra de direção. É, quebrou. Vou tentar remendar.
Até onde eu entendo de mecânica, uma barra de direção quebrada é quase como um ataque cardíaco, é mortal. Mas eu devo estar enganada, pois após esse leve pensamento, vejo o motorista subindo com uma barra de ferro, de mais ou menos uns 2,5 m, colocando ela no meio do corredor do ônibus e dando partida. Tudo ia bem na minha viagem e na do elefante indiano que passava sobre meus olhos até que, até que, até que, até que, o ônibus quebra denovo. O mesmo ritual, o motorista desce, com cara de putaquepariu, endireita a roda no eixo do chassi, volta marrom e rosa. Marrom por causa da poeira e rosa porque tinha cara de português, daqueles que suam e ficam rosa. Quase um leitão. O ritual se repetiria mais umas 5 vezes, mas o que tornou a quarta vez mais interessante foi o fato de ter quebrado em frente a uma área que tinha árvores, mangueiras, dois pés de mamão com frutos maduros. Não preciso comentar que comeu-se mamão sob a sombra de mangueiras.
Desde a quarta quebrada, o céu ameaçava chover. Claro, não faltava nada além de chuva e a falta de combustível. A falta de combustível eu não sei, pois depois da ameaça cumprida, na quinta quebrada, o ônibus atola em uma vala no canto da estrada. O buraco foi fundo e havia barro e grama na janela. Claro que as crianças começaram a chorar, os velhos a coçar os sacos, as velhas a sacudir saias e eu tomei uma atitude, claro também. Retomei meu contorcionismo há muitos anos não praticado, sai pela porta, em cima de um barranco e pulei pro meio da rua. Ia passando um carro, que oferece ajuda ao motorista rosa. O carro tinha duas pessoas e um banco lindo, estúpidamente vazio e espaçoso atrás. Acendeu uma lâmpada na minha cabeça, vesti minha melhor cara de pau e propus:
- Os senhores poderiam me dar uma carona?
Era uma dupla de irmãos. Não meus, quer dizer, vai saber, mas irmãos em cristo. Pastores, missionários, alguma coisa da igreja maranata que estavam voltando de mais uma missão cumprida, alguns dízimos e algumas pessoas salvas para o reino do senhor, deus pai, todo poderoso, criador do céu, da terra e dos homens. Ao sentar vi que havia um rádio no painel. Tremi dos pés à cabeça imaginando que teria que passar horas ouvindo hinos agudíiiiissssimos de adoração. Mas não, graças à ele. Parada para o pastel e um deles me pergunta aonde eu moro. Eu disse e ele disse que havia uma igreja deles perto da minha casa. Eu pensei: interesseiro. Tomei um gole de coca-cola, dei meu meio sorriso, emiti um som que significa, as vezes, que não tenho mais nada pra dizer a não ser: hum.
Postado por Kaline Rossi às 17:00 1 comentários
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